Racha no judô respinga em preparação para Jogos Olímpicos do Rio-2016
Eduardo Ohata
Um racha entre o presidente da Confederação Brasileira de Judô, Paulo Wanderley, e dirigentes da Confederação Pan-Americana de Judô, da qual o brasileiro foi obrigado a deixar a presidência, respinga na preparação para os Jogos Olímpicos do Rio-2016.
O efeito imediato foi a perda do Pan de judô para Cuba. A competição serviria para testar procedimentos de organização, além de servir de oportunidade para os atletas olímpicos brasileiros sentirem a pressão de participar de uma competição no palco da Olimpíada e melhorar suas colocações no ranking da FIJ (Federação Internacional de Judô) para saírem como cabeças-de-chave.
O brasileiro foi destituído do cargo durante uma assembléia da CPJ realizada em Miami, no fim do ano passado, e que contou com a presença de um representante da FIJ, que supervisionou a reunião. Os países membros da confederação decidiram, por 18 votos a 1, destituir o brasileiro, o secretário-geral, Fernando Garcia, e também o tesoureiro-geral, Luis Cheves, que compunham o comitê executivo da CPJ. O relatório financeiro apresentado pelo comitê executivo tampouco foi aprovado.
''Fui eleito presidente da CPJ em 2009, reeleito em 2013 por unanimidade e me afastei em outubro de 2015 por decisão da assembleia. A prestação [de contas] foi aprovada no comitê executivo da CPJ e sequer analisada pela assembleia antes de ser reprovada'', defendeu-se Paulo Wanderley. Segundo a CPJ, o relatório foi rejeitado porque o comitê executivo não havia enviado a prestação de contas em tempo para ser examinado pelos membros da assembleia, apresentando o relatório de última hora.
Posteriormente à reunião, foi encaminhada uma apelação à Corte Arbitral do Esporte para recolocar o trio em seus cargos no comitê executivo, porém o tribunal manteve o resultado.
Os motivos elencados pelos dirigentes para a retirada de Paulo Wanderley incluem a ''tentativa de concentração de poder, a tomada de decisões sem consulta prévia a países membros e destituição de dirigentes que se opunham a seus pontos de vista''.
''Ele [Paulo Wanderley] não entendeu que os países membros mandam todos juntos. Se alguém não o agradava ou não estava de acordo com suas decisões, [Paulo Wanderley] os destituía. Eu mesmo sou um exemplo'', argumentou Manuel Larrañaga, atual presidente da CPJ e da Federação Mexicana de Judô. ''Houve um caso em que pedimos que não tirasse o diretor esportivo, pois havia recém-descoberto que estava com câncer, além de ter problemas sérios em sua vida pessoal e profissional. Pedimos que não o demitisse, mas ele [Paulo Wanderley] o tirou.''
A disputa política respingou na preparação de atletas para a Olimpíada do Rio e da própria cidade.
O Pan de judô, marcado para abril, no Rio, foi transferido do Rio para Cuba. O motivo apresentado em notificação pelos 22 países membros que assinaram documento no qual se recusaram a vir competir no Rio foi que ''por conta do relacionamento [com a CBJ], não há garantia [de ambiente] de confraternização… onde pode estar em risco o desenvolvimento normal do evento… último classificatório para os Jogos Olímpicos para a maioria dos atleta do continente''.
''Desconheço essa alegação. A CBJ é uma instituição independente, estável e construiu ao longo dos anos uma relação de confiança com seus parceiros, já tendo inclusive renovado contratos de patrocínio com Bradesco e Cielo para o próximo ciclo olímpico'', diz Paulo Wanderley.
A CBJ também aponta que houve prejuízo para a organização da Olimpíada do Rio.
''O Pan serviria para testar procedimentos de organização para a Olimpíada, seria um ótimo laboratório para a Olimpíada o Rio, um treino para toda sua equipe de trabalho. Foi assim antes dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara e de Toronto. E seria a mesma coisa para a Olimpíada [do Rio]'', aponta Ney Wilson, coordenador técnico da CBJ. Não havia sido definido em que ginásio seria realizado o Pan de judô.
''A organização do judô nos Jogos Olímpicos não terá uma segunda chance de treinar seus processos e pessoas envolvidas neles. E os atletas e comissões técnicas do continente perdem uma oportunidade de viver o clima olímpico numa data bem próxima ao início dos Jogos'', argumenta Paulo Wanderley.
''Os atletas [estrangeiros] perderam a chance de conhecer instalações olímpicas antes dos Jogos e os brasileiros, a oportunidade de lutar em uma situação de pressão dentro de casa a poucos meses da Olimpíada e de buscar um melhor posicionamento no ranking da FIJ, já que todos buscam um melhor posicionamento para sair como cabeças-de-chave [o que na teoria propicia um caminho mais fácil até a medalha de ouro]'', complementa Wilson.
A CBJ programou um evento-teste para os Jogos do Rio para esta semana na Arena Carioca 1, dentro do Parque Olímpico, onde será realizada a disputa olímpica. Mas o evento-teste oficial não terá igual relevância do Pan, que contaria pontos para o ranking adulto da FIJ e que não reuniria atletas do adulto, e não apenas atletas de base, como será com o evento-teste.