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Arquivo : CMB

Sem empolgar profissionais, boxe estende prazo para tentarem ir à Rio-2016
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Eduardo Ohata

A Aiba (Associação Internacional de Boxe) estendeu o prazo para inscrições de profissionais no derradeiro torneio classificatório para os Jogos Olímpicos Rio-2016. O deadline para as confederações nacionais inscreverem profissionais era ontem, mas oficiais da Aiba foram informados durante a tarde de que o prazo foi prorrogado para até a próxima segunda-feira (27).

A qualificatória aberta a atletas do WSB, liga semi-profissional da Aiba, APB, liga profissional da Aiba, e profissionais não-ligados à Aiba está prevista para acontecer entre 3 e 8 de julho em Vargas, na Venezuela, e distribuirá 26 vagas: 3 vagas para cada uma das categorias entre 49 quilos e 81 quilos, e uma vaga cada para a categoria pesado (até 91 quilos) e superpesado (acima de 91 quilos).

Nos últimos dias, o interesse de profissionais para participar dos Jogos não era grande, este blog apurou com fontes ligadas à Aiba.

Uma das possíveis causas da “falta de interesse” pode ser a ameaça da parte do Conselho Mundial de Boxe, mais importante entidade do boxe profissional, de banir de seus rankings por dois anos atletas classificados até o 15º posto que subirem nos ringues do Rio. Posteriormente, a Federação Internacional de Boxe seguiu seus passos e também anunciou punições.

Essas medidas afugentaram pugilistas interessados em participar da Olimpíada, que se assustaram com as ameaças de suspensão.

Um deles é o peso-pesado profissional Raphael Zumbano, último representante em atividade do clã Jofre-Zumbano, que gostaria de conquistar o último “troféu” que falta à galeria do clã: uma medalha olímpica.

A Confederação Brasileira de Boxe mostrou-se aberta à possibilidade de Zumbano participar de uma seletiva interna para o classificatório aberto apenas a profissionais, mas Zumbano desistiu da ideia.

“Queria muito participar de uma Olimpíada”, lamenta Zumbano, que quer evitar problemas com o CMB, que além dos mundiais, mantém títulos regionais, como o sul-americano e o norte-americano. “Mas quem sabe em 2020 [nos Jogos de Tóquio]?”


Técnico de seleção brasileira de boxe afasta risco de tragédia na Rio-2016
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Eduardo Ohata

“Não digo que é impossível, mas acho muito difícil [acontecer uma morte no boxe da Rio-2016].” O autor da frase é Mateus Alves, técnico da seleção brasileira olímpica de boxe. Ele é membro da Confederação Americana de Boxe, entidade ligada à Aiba (Associação Internacional de Boxe), que controla o boxe na Olimpíada e que definiu que profissionais competirão ao lado de amadores na Rio-16.

Não caíram bem para Mateus as palavras de Maurício Sulaiman, presidente do Conselho Mundial de Boxe, mais importante entidade do boxe profissional, que afirmou a este blog que misturar profissionais e amadores era receita de “tragédia” na Olimpíada do Rio-16.

“Hoje, no boxe de nível olímpico, só tem lutador com 18 anos ou mais e geralmente com cem lutas. Na olimpíada [atualmente] só tem lutador rodado”, enumera Mateus, que acredita que o prazo de 60 dias até os Jogos afastará os grandes nomes da Rio-2016.

As regras diferentes do boxe amador também fazem Mateus acreditar que não haverá massacres.

“No boxe profissional, os atletas pesam no dia anterior e têm 24 horas para recuperar 10, 12, 14 quilos de peso até a hora da luta. No amadorismo, você pesa todos os dias, às 7h e se bobear às 11h já está lutando. Ou seja, não tem o tempo para recuperar tanto peso como no profissionalismo. Se o [russo campeão mundial] Sergey Kovalev vier mesmo para o Rio como saiu em um site, ele não poderá lutar na categoria dele no profissionalismo, mas em outra seis quilos acima, por conta de a pesagem ser no mesmo dia.”

“[Na olimpíada] as luvas são maiores [10 onças, ao invés de 8], as ataduras são feitas de modo diferente ao profissionalismo”, compara Mateus. “É possível que algum grande nome mantenha no amadorismo a pegada que tem no profissionalismo? Sim, mas acho difícil. Pode até acontecer, mas acho difícil acontecer uma tragédia nos ringues da Olimpíada do Rio.”

“Não vai ter nenhum menino contra assassino na Rio-2016”, resume Mateus.

 

 

 

 

 


‘Rio-16 corre risco de ser Olimpíada trágica’, afirma manda-chuva do boxe
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Eduardo Ohata

O presidente do Conselho Mundial de Boxe, principal entidade do boxe profissional, Mauricio Sulaiman, vê risco de a Rio-16 ficar marcada como “uma olimpíada trágica” por conta da decisão que permite que profissionais dividam os ringues com amadores.

O dirigente mexicano alerta, em carta aberta enviada com exclusividade a esse blog, que essa é uma das “mais perigosas ações contra o esporte que foi um dos fundadores da Olimpíada” e refuta comparações com o que acontece no basquete com o Dream Team.

“O boxe não é [como o basquete] um jogo onde se anota pontos ou cestas, é um esporte de alta periculosidade à integridade física, especialmente quando há disparidade [de nível técnico] entre os competidores”.

“É altamente perigoso pensar que qualquer boxeador profissional, não importa seu nível, possa competir contra qualquer boxeador amador na Olimpíada”, afirma Sulaiman. “Fica nas mãos de todos aqueles que votaram a favor dessa medida a responsabilidade por uma possível tragédia que mancharia com  sangue inocente suas mãos e sua moral, marcada exclusivamente pela marca do dinheiro”.

Segundo o dirigente, ele espera que os únicos boxeadores profissionais que participem dos Jogos do Rio sejam atletas do nível de principiantes acostumados a apenas lutas de quatro assaltos [lutas por título acontecem em 12 assaltos].

Confira a íntegra do documento abaixo:

“O Conselho Mundial Boxe, firme em sua oposição à participação de boxeadores profissionais nos Jogos Olímpicos do Rio-2016

 

O Conselho Mundial de Boxe tem expressado incansavelmente sua preocupação, a mesma de milhares de pessoas da comunidade do boxe mundial, em relação à proposta da Aiba de permitir que boxeadores profissionais lutem nos Jogos Olímpicos do Rio.

Essa decisão, que foi anunciada hoje [ontem], marca a história do boxe como uma das mais perigosas ações que alguém já cometeu contra o esporte que nasceu 8.000 anos A.C.; o esporte que foi um dos fundadores das olimpíadas originais e o esporte dos poucos que oferecem oportunidade a qualquer país de obter uma medalha olímpica sem importar sua economia, sua estrutura social ou cultural.

O boxe não é um jogo onde se anotam pontos ou cestas; é um esporte de alta periculosidade para a integridade física, especialmente quando há disparidade entre os competidores.

A Rio-2016 corre o risco de ficar marcada como uma olimpíada trágica se a Aiba não proceder com o máximo cuidado ao estabelecer seu plano de trabalho. É altamente perigoso pensar que qualquer boxeador profissional, não importa seu nível, possa competir com qualquer boxeador amador na Olimpíada.

No boxe profissional existem níveis, normalmente são estabelecidos por meio do número de assaltos que se compete, sejam quatro, seis, oito, dez, ou as lutas de título que são em 12 assaltos. Logicamente é impensável que um novato de quatro assaltos vá competir contra um campeão em 12 assaltos.

A objeção absoluta e total a esse assunto está baseada na preocupação com a segurança dos atletas, mas há outras graves incongruências na maneira de proceder da Aiba o que estão publicando hoje [ontem] em seu press release.

Um de seus comunicados fala de um estudo médico que determina a abolição do protetor de cabeça para as lutas [uma das novidades da Olimpíada do Rio], enquanto na realidade tal estudo carece absoluta e totalmente de uma interpretação médica e só engloba estatísticas com um alto grau de confusão e manipulação em sua interpretação.

Por outro lado reconhecem como “Boxeador Profissional Não-Aiba” qualquer boxeador profissional que deseje participar da Olimpíada. Há evidências intermináveis de práticas monopolísticas e de abuso de poder que a Aiba aplicou em muitos países, prejudicando no processo o boxe amador e acabando com estruturas e plataformas para a proteção desse esporte no mundo.

Há muitos outros assuntos para rebater e combater no que a Aiba faz, mas o assunto principal, sem dúvida alguma, é a grave preocupação do que pode acontecer nessa olimpíada quando acontecerem, se é que irão acontecer, lutas entre boxeadores novatos e jovens com boxeadores experientes no boxe profissional, com diferente estrutura física e mental.

O único motivo para a Aiba tomar essa decisão é evidentemente comercial, e se atreve a se comparar [o boxe] com outros esportes, como o basquete, o tênis etc.

Temos ainda a esperança de que qualquer boxeador profissional que for à Olimpíada do Rio-2016 seja de um nível básico e elementar, por exemplo boxeadores de quatro assaltos, e que não participem campeões mundiais ou boxeadores que pelos motivos explanados anteriormente possam chegar a causar danos permanentes a boxeadores amadores.

Fica na mão de todos aqueles que votaram a favor dessa medida a responsabilidade por uma possível tragédia que encheria de sangue inocente suas mãos e sua moral que está marcada exclusivamente pela marca do dinheiro”.

Além de manifestações de várias entidades do boxe como a União Europeia de Boxe, Federação Norte-Americana de Boxe e Federação do Oriente e Pacífico, o dirigente destacou  manifestações de ex-campeões contra a decisão da Aiba. A seguir, o resumo de algumas delas:

“Permitir que profissionais lutem com amadores é um crime. Coloca em risco vidas e carreiras de jovens boxeadores” – Julio Cesar Chávez, ex-campeão em várias categorias de peso.

“De repente você poderia ter alguém como [o ex-campeão profissional dos pesados] Wladimir Klitschko, que foi ouro em Atlanta-96, e tem muito mais experiência, contra um garoto de 18 anos com apenas 10 lutas” – Lennox Lewis, ex-campeão mundial dos pesados e  campeão olímpico super-pesado na olimpíada de Seul-88.

“Quando um garoto de 17 anos da Suécia enfrentar um americano campeão mundial de 30 anos e for colocado em coma, todos irão perguntar: “Por que permitiram que isso acontecesse?” David Haye, ex-campeão dos pesados

 

 

 

 


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