Cubano que tentou desertar no Rio-07 luta por cinturão que já foi de Popó
Eduardo Ohata
Para quem não acompanha boxe, mas tem curiosidade em saber que fim levou o cubano Guilhermo Rigondeaux, que ao lado do compatriota Erislandy Lara protagonizou uma tentativa frustrada de deserção no Pan do Rio, em 2007, ele faz na madrugada deste domingo (10), com transmissão do SporTV 3 a partir das 23h55 de sábado (9), a luta mais importante da sua carreira, e um dos combates de boxe mais importantes do ano.
Trata-se de um inédito duelo, no profissionalismo, entre bicampeões olímpicos de boxe, já que seu rival, o ucraniano Vazyl Lomachenko foi ouro em Pequim-08 e Londres-2012. Combinados, os carteis amadores da dupla somam 859 vitórias e 13 derrotas.
Em 2007, Rigondeaux e Lara deixaram o alojamento e “sumiram” durante o Pan do Rio. Posteriormente foram achados pela polícia e mandados de volta para Cuba, o que gerou muita polêmica. Enquanto o governo da época, que mantinha fortes laços com Cuba, afirmava que os boxeadores pediram para voltar ao país, muitos falavam que foi uma deportação. De toda a forma, os dois posteriormente deram um jeito de fugir de Cuba, assinaram contratos no pugilismo profissional e conquistaram cinturões mundiais.
Rigondeaux invocou os percalços a que foi submetido para chegar onde está, durante teleconferência com jornalistas há pouco dias, ao ser questionado sobre a falta de reconhecimento que recebeu ao longo de sua carreira profissional.
“Já passei por muitas adversidades na minha vida, então não perco meu tempo pensando sobre isso [reconhecimento da parte dos críticos]”, respondeu.
Dono do cinturão dos supergalos da OMB, Rigondeaux é conhecido como um especialista defensivo cujas lutas são “chatas”. Mas não quer dizer que não tenha pegada. Em 2007, antes de ele tentar desertar, o blogueiro acompanhou uma sessão de treino de Rigondeaux na academia Delfim, no Rio, na qual um jovem e encorpado sparring ousou, acertou um golpe que incomodou o cubano, que logo depois nocauteou o inexperiente parceiro de treino com uma sequência que começou com um potente golpe na linha de cintura.
De fato, três das últimas cinco lutas de Rigondeaux, 37, terminaram antes do fim do segundo assalto e um quarta adversário, Hisashi Amagasa, deixou o ringue com uma fratura no maxilar (apesar de ter derrubado Rigondeaux duas vezes no sétimo assalto).
Mas, ao contrário de Lomachenko, que é mais proativo e “busca” a luta, Rigondeaux gosta de boxear em seu próprio ritmo, é contragolpeador, com uma mentalidade defensiva, categoria na qual é mestre, além de contar com, conforme já foi apontado, golpes debilitantes, especialmente na linha de cintura.
Lomachenko, campeão superpena pela OMB, título que já foi do brasileiro Popó, dominou amplamente suas últimas lutas. Tanto que seus três últimos rivais (Nicholas Walters, Jason Sosa e Miguel Marriaga) desistiram durante os intervalos entre os assaltos.
Os dois se igualam em técnica e na postura canhota. Mas, além de muita precisão nos golpes, o ucraniano terá a vantagem em tamanho (Rigondeaux está subindo duas categorias de peso), altura (6 centímetros), idade (oito anos), além de estar lutando com mais frequência (Rigondeaux só tem 3 assaltos desde 2015, o que pode prejudicar um lutador que depende dos reflexos e da boa leitura do “tempo” de reação do adversário; no mesmo período Lomachenko tem 23 assaltos) e de ter um jogo de pernas igual ou até superior.
O favorito é Lomachenko, em um duelo que não deixa de ser muito intrigante.