‘A Luta do Século’, que estreia hoje, resgata 2 crias de Luciano do Valle
Eduardo Ohata
O documentário “A Luta do Século”, que estreia hoje em São Paulo, resgata dois dos boxeadores mais folclóricos a pisar em ringues brasileiros, ambas “crias” do locutor Luciano do Valle: O pernambucano Luciano “Todo-Duro” Torres e o baiano Reginaldo “Hollyfield” Andrade, que protagonizaram intensa rivalidade que começou na década de 90 e que prossegue até os dias de hoje.
Na Mostra de Cinema de São Paulo do ano passado, Todo-Duro, todo despachadão, chegou sozinho para a exibição do documentário. Era para a dupla chegar junta, mas o diretor Sergio Machado, de “Cidade Baixa” e diretor-assistente de “Central do Brasil”, justificou: “‘Hollyfield’ disse que não viria no mesmo carro que o ‘Todo-Duro’, tivemos de arrumar um outro transporte para ele”. Machado ficou entre a dupla durante as fotos, e se apavorou quando puxei um na direção do outro pelos braços. “Melhor não…”, alertou, temeroso. A dupla protagonizou brigas em estúdios de TV e entrevistas coletivas e “Todo-Duro” chegou a perder alguns dentes em uma delas.
A dupla ficou conhecida nacionalmente ao ter seus combates transmitidos pela Band no saudoso programa dominical “Show do Esporte” e depois durante a semana na “Faixa Nobre do Esporte”, as duas atrações comandadas pelo genial narrador-empresário Luciano do Valle, que inclusive narra uma das lutas mostradas no documentário. Ele sabia que algumas vezes, especialmente em se tratando de programação de TV, muitas vezes vale mais o carisma, e não a técnica.
Em visita ao Brasil, Johnny Reetz, manager do ex-campeão mundial Iran “The Blade” Barkley, mostrou interesse em “Todo-Duro”, que ainda estava invicto à época. Reetz ainda nutria expectativa antes de assistir uma das lutas do pernambucano. “Quem sabe?”, comentou, dando de ombros. Dez assaltos depois, desapontado, fez sinal de “negativo” e comentou, “Todo-Duro, Todo-Mole…”.
A dupla era simplória, mas autêntica, é difícil esquecer o dia em que “Todo-Duro”, depois de “estraçaiá” um rival, deixou sem graça o repórter de TV que perguntou ainda no ringue quais eram seus planos para o futuro, ao responder que estava louco para ir “para casa fazer fuc fuc”. Hollyfield também deu uma dessas após “esbagaçar” um adversário, ao xingar na TV “Todo-Duro” de “bunda-mole”.
Todo-Duro e Hollyfield são lendas do ringue? Não. São lutadores do mais alto nível? Não. “Todo-Duro” merecia dividir o ringue com Joe Calzaghe, que depois se tornaria um dos maiores campeões da história? Não. Mas o segredo para lutas emocionantes não é escalar um campeão, se o rival não estiver à altura. Casar lutas entre atletas de níveis parelhos, como Todo-Duro e Hollyfield? Aí, sim.
E, não, Hollyfield nunca será confundido com um lutador do altíssimo nível. Mas, sim, o baiano é um herói. Considero um herói qualquer um que entra em uma casa em chamas para salvar os sobrinhos, acaba com queimaduras em 60% do corpo e entra em coma. Fora que qualquer um merece respeito só pelo fato de subir em um ringue de boxe para trocar sopapos com um adversário.
“A Luta do Século” tem de tudo, do drama à comédia, vai do auge de popularidade da dupla à decadência, quando faziam lutas em boates e cidadezinhas do interior. O filme interferiu na realidade ao provocar um sexto duelo entre “Todo-Duro” e “Hollyfield”.
Os atores baianos Lázaro Ramos, que fez a narração do filme, e Wágner Moura, que acompanharam as suas lutas, se mostraram dispostos a fazer o papel dos lutadores em um filme de ficção. “A ideia era usar o documentário para pesquisar material para um longa de ficção, mas depois que os conheci melhor, vi que nenhuma ficção faria jus aos personagens reais”, explica Sergio Machado.
“A Luta do Século” estreia hoje em São Paulo no Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca, com sessões* às 14h30, 18h20 e 20h; e no Espaço Itaú Cinema Pompéia, às 17h50.
* Segundo o site do cinema