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Arquivo : Vitali Klitschko

Muhammad Ali foi também humorista, além de boxeador e ativista político
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Eduardo Ohata

Nos necrológios de Muhammad Ali, uma de suas facetas mais subestimadas é a de humorista. Sim, você leu corretamente: humorista.

Claro, não foi a contribuição mais relevante de Ali para o mundo. O que fez dentro do ringue, como boxeador fenomenal, e fora dele, como ativista político, são mais lembrados. Mas, na minha opinião, o lado “leve” de Ali teve papel importante para torná-lo querido entre aqueles que não acompanhavam esportes em geral, e o boxe em particular, e entre quem não se interessava por questões sociais.

Nem todo mundo apreciou as lutas épicas de Ali ou deu atenção aos seus discursos em defesa da igualdade racial ou contra a Guerra do Vietnã. Mas certamente todos acompanharam em telejornais, documentários ou programas de auditório o humorista que existia em Muhammad Ali, bem diferente dos carrancudos George Foreman (a versão da década de 70), Joe Frazier, Sonny Liston etc.

A começar dos criativos e famigerados apelidos que ele dava aos adversários. Frazier era o “Gorila”. Liston, o “Grande Urso Feio”. Foreman, a “Múmia”, pela forma como caminhava no ringue. Floyd Patterson, o “Coelho”. George Chuvalo, a “Lavadeira”. Leon Spinks, famoso por não ter os dentes da frente, “Drácula”. E assim por diante.

Mas há outros momentos inesquecíveis.

Ali invadindo o palco e surpreendendo Sylvester Stallone durante a cerimônia do Oscar e afirmando que ele era o “real Apollo Creed” e que Stallone havia “roubado seu roteiro”.

Ali simulando uma luta com os Beatles, no qual ele “nocauteia” o quarteto.

Até de tradicionais quadros de “pegadinhas” Ali participou, quando ele aparece dentro de uma sala de aula, caracterizado como boxeador, pregando uma (agradável) peça nos jovens alunos.

E, depois que sua carreira como pugilista se encerrou e o Parkinson começou a limitar seus movimentos e fala, Ali lançou mão de um novo talento: truques de mágica. Sim, Ali, o então embaixador da paz, que fez um discurso tocante após os trágicos ataques de 11 de Setembro, por exemplo, passou a encantar multidões com seus truques de prestigitador.

Alguém consegue imaginar Tyson, Liston, Rocky Marciano, Vitali Klitschko fazendo o mesmo?

Um jornalista ou autor, não me lembro agora, disse que mesmo sérios homens de negócio, quando viram avôs, fecham a porta da sala e escondidos do mundo exterior, na companhia dos netos, viram crianças novamente, se jogam no chão, brincam, riem com os netos com coisas que os adultos consideram “bobas”. O mesmo escritor disse que com Ali, durante toda sua carreira, era a mesma coisa, só que ao invés de fechar as portas para o público, ele permitia que o mundo inteiro o visse nesses momentos.

Ali tinha a habilidade e a auto-confiança, para poucos, que o permitiam rir de si mesmo.

Se se você quiser se despedir de Ali o peso-pesado inigualável, o destemido ativista, ou simplesmente, o humorista, a ESPN transmite ao vivo, a partir das 15h desta sexta-feira, a cerimônia e o enterro de Ali.

Que ele descanse em paz.


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