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À distância, ex-campeão Sertão orienta via WhatsApp conterrâneo no ringue
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Eduardo Ohata

De Cruz das Almas, na Bahia, Valdemir Pereira, o Sertão, ex-campeão pena da Federação Internacional de Boxe, troca mensagens via WhatsApp com Ruan Pablo, 14. O garoto acaba de se sagrar campeão paulista de sua categoria sobre o atual campeão brasileiro, Caique Santos.

Juan Pablo (à frente), com a medalha de campeão

“Sou da mesma cidade do Sertão, o pessoal apontava para ele na rua quando eu era criança e me diziam que ele tinha sido campeão mundial. Um dia fui falar com ele, fiquei animado porque um campeão mundial tinha saído da minha cidade”, relembra Ruan.

“Nos falamos pelo WhatsApp, ele pergunta como estou, me incentiva, me dá dicas, ou me orienta sobre como lidar com problemas, diz que um mau momento está aí para ser superado. Ele dá motivação”, conta o jovem pugilista, que espera seguir os passos do mentor.

Sertão retornou à sua cidade natal para viver com a família, onde trabalha como empacotador em uma loja, após se aposentar dos ringues por questão ligada à saúde. De lá, e com a ajuda de amigos, luta para não ser esquecido. No ano retrasado, foi inaugurado um busto com os rostos de Eder Jofre, Miguel de Oliveira e Popó, na cidade de Santos, porém Sertão foi deixado de lado, apesar de o título da FIB estar entre os três mais importantes.

Coincidentemente, ao migrar de Cruz das Almas para São Paulo, em busca de melhores condições de treinamento, Ruan se tornou pupilo de Ivan de Oliveira. Pitu, como também é conhecido o técnico, é nada mais, nada menos, do que o ex-treinador de Sertão, que o dirigiu na luta em que conquistou o título mundial, sobre o tailandês Fahprakorb Rakkiatgym, em 2006.

“Eu não sabia que o Pitu tinha sido técnico do Sertão. Mas como ele gosta de contar histórias, ele falou do Sertão algumas vezes. Foi aí que eu soube que o Pitu tinha sido treinador do Sertão”, explica Ruan, que vive com a família do treinador e mais três atletas, como parte de um projeto que o treinador mantém, que chegou a abrigar nove atletas antes da crise atingir o país (clique no link se desejar colaborar).

O filho mais novo de Pitu, Luiz Gabriel, o “Bolinha”, também foi campeão na última edição do Paulista, também sobre um campeão brasileiro.

“Essas vitórias, sobre campeões nacionais, nos deixaram muito animados para o Brasileiro, que acontece em julho”, festeja Pitu, que é filho de Servilio de Oliveira, primeiro medalhista olímpico do boxe brasileiro.


Sem empolgar profissionais, boxe estende prazo para tentarem ir à Rio-2016
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Eduardo Ohata

A Aiba (Associação Internacional de Boxe) estendeu o prazo para inscrições de profissionais no derradeiro torneio classificatório para os Jogos Olímpicos Rio-2016. O deadline para as confederações nacionais inscreverem profissionais era ontem, mas oficiais da Aiba foram informados durante a tarde de que o prazo foi prorrogado para até a próxima segunda-feira (27).

A qualificatória aberta a atletas do WSB, liga semi-profissional da Aiba, APB, liga profissional da Aiba, e profissionais não-ligados à Aiba está prevista para acontecer entre 3 e 8 de julho em Vargas, na Venezuela, e distribuirá 26 vagas: 3 vagas para cada uma das categorias entre 49 quilos e 81 quilos, e uma vaga cada para a categoria pesado (até 91 quilos) e superpesado (acima de 91 quilos).

Nos últimos dias, o interesse de profissionais para participar dos Jogos não era grande, este blog apurou com fontes ligadas à Aiba.

Uma das possíveis causas da “falta de interesse” pode ser a ameaça da parte do Conselho Mundial de Boxe, mais importante entidade do boxe profissional, de banir de seus rankings por dois anos atletas classificados até o 15º posto que subirem nos ringues do Rio. Posteriormente, a Federação Internacional de Boxe seguiu seus passos e também anunciou punições.

Essas medidas afugentaram pugilistas interessados em participar da Olimpíada, que se assustaram com as ameaças de suspensão.

Um deles é o peso-pesado profissional Raphael Zumbano, último representante em atividade do clã Jofre-Zumbano, que gostaria de conquistar o último “troféu” que falta à galeria do clã: uma medalha olímpica.

A Confederação Brasileira de Boxe mostrou-se aberta à possibilidade de Zumbano participar de uma seletiva interna para o classificatório aberto apenas a profissionais, mas Zumbano desistiu da ideia.

“Queria muito participar de uma Olimpíada”, lamenta Zumbano, que quer evitar problemas com o CMB, que além dos mundiais, mantém títulos regionais, como o sul-americano e o norte-americano. “Mas quem sabe em 2020 [nos Jogos de Tóquio]?”


Técnico de brasileiro campeão mundial volta a se testar na elite do boxe
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Eduardo Ohata

Ivan de Oliveira, o Pitu, foi o técnico de Sertão quando ele conquistou o cinturão da Federação Internacional de Boxe, em 2006. O baiano sagrou-se o quarto brasileiro a conquistar um título mundial, juntando-se a Eder Jofre, Miguel de Oliveira e o conterrâneo Popó.

Em 2010, quando a A.D. São Caetano interrompeu os trabalhos com modalidades olímpicas, Pitu se viu forçado a buscar outras áreas de atuação fora do boxe para se sustentar (Pitu também é músico). Um dos atletas que, à época, ficaram “órfãos” de Pitu era o promissor Jackson Junior. Doeu para Pitu ter de deixá-lo partir, pois juntos construíram um cartel invicto em 10 lutas profissionais.

Pois bem. O mundo deu suas voltas, Pitu voltou a trabalhar com lutas, entrou no mundo do MMA, trabalha no córner do lutador do UFC Demian Maia, que aliás já passou da hora de ganhar uma nova oportunidade por um título, entre outros, com boxeadores amadores no projeto “Garimpando o Ouro Olímpico”, e também mantém parceria com seu irmão, Gabriel de Oliveira, na dupla Oliveira Brothers.

Jackson, por sua vez, sofreu sua primeira derrota em 2014, após somar 16 vitórias seguidas, e desde então vem alternando vitórias e derrotas (5 vitórias e 4 derrotas).

Mas desde 2010, Pitu tem uma sensação de “trabalho inacabado” em relação a Jackson, 30 anos. Então não foi surpresa quando um pedido para assumir o treinamento do ex-pupilo na preparação contra um adversário ranqueado despertou a curiosidade de Ivan.

O adversário é o turco Avni Yildirim, 9º do ranking do Conselho Mundial de Boxe, 24 anos, invicto em 9 lutas (5 nocautes), dono do cinturão de campeão “de prata” internacional do CMB. Apelidado de “Sr. Robô”, tem no cartel uma vitória sobre o ex-campeão mundial dos meio-pesados Glen Johnson (se bem que Johnson tem quase 50 anos). Yildirim está à frente no ranking, por exemplo, do ex-campeão Jean Pascal. A luta está prevista para o dia 6 de maio, em Berlin.

À primeira vista, parece um combate perigoso para o brasileiro, cujo cartel registra 20 vitórias (18 nocautes) e 5 derrotas. Mas para Pitu, que “viu algo”, a oportunidade não poderia ser melhor.

“O estilo dele [Yildirim] não ‘casa’ bem com o do Jackson”, explica Pitu. “O Jackson não se dá bem com quem boxeia e se movimenta muito. Mas o turco gosta é de bater, lutar parado. Ele jabeia [aplica golpe preparatório de esquerda], não se move e nem ‘pega’ tanto. Outra coisa é que logo depois de estrear ele [Yildirim] ficou um ano parado, então aí tem coisa. E ele tem poucas lutas.”

“Estou voltando porque acredito nele [Jackson], com uma vitória, quem sabe onde podemos chegar?”, pergunta, de forma retórica.

Quando Sertão foi campeão mundial com Pitu, poucos acreditavam. E fizeram história juntos.


Em aniversário de 10 anos de título mundial, Sertão vive com salário mínimo
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Eduardo Ohata

Sertão, ou melhor, o baiano Valdemir Pereira, era uma alegria só. Afinal, ele havia acabado de vencer, por pontos, o tailandês Phafrakorb Rakkietgym. Nome engraçado? É porque os boxeadores tailandeses adotam como sobrenome “artístico” o nome de sua academia. Pioneiros no “naming rights”.

Logo após ter seu braço erguido, Sertão ria à toa segurando o cinturão da Federação Internacional de Boxe, abraçado ao técnico Ivan de Oliveira. “Quem ele pensava que era, o Tarzan?”, perguntou para mim, enquanto ainda estávamos no ringue, em referência ao fato de o tailandês ter começado a bater com as duas mãos no próprio peito no décimo assalto, em uma tentativa (infrutífera) de intimidar o brasileiro. Não, nesse caso, nunca é demais descrever detalhes do combate ou do pós-luta, já que não foi transmitido na América do Sul. Os programadores da TV a cabo, apesar de ter os direitos da luta transmitiram para o Brasil partida da NBA, já que o mesmo sinal iria para toda América do Sul.

Poster da luta na qual Sertão sagrou-se campeão mundial pena há exatos 10 anos

Poster da luta na qual Sertão sagrou-se campeão mundial pena há exatos 10 anos

No aeroporto de Connecticut, quando se preparava para retornar ao Brasil, Sertão dizia, “baba aí, Ohata”, ao comprar um colar que trazia pendurado um aparelho de metal que programou para ficar exibindo, em movimentos ininterruptos, de cima para baixo, seu apelido: “Sertão”.

No aeroporto de Guarulhos, Sertão foi barrado na alfândega. Seu manager, Servílio de Oliveira, protestava, “mas ele é campeão mundial”. O fiscal respondeu, “é aí mesmo que a gente vai procurar”. Provavelmente os fiscais ainda se lembravam da polêmica quando os jogadores da seleção campeã da Copa de 94 entraram no Brasil com 15 toneladas a mais de bagagem do que a levada para a Copa dos EUA sem passar pela alfândega e pagar os impostos.

Isso tudo aconteceu há exatos 1o anos.

“Como você vai comemorar os 10 anos do título?”, perguntei nesta terça-feira (19) a Sertão, que voltou a morar na sua cidade natal de Cruz das Almas após perder o título na primeira defesa, para Eric Eiken, e que teve a carreira interrompida por conta de um problema de saúde.

“Vou trabalhar”, respondeu Sertão, que é empacotador em uma loja. “Para fazer festa, tem que ter dinheiro. Eu ganho um salário mínimo e tenho que pagar duas pensões para minhas ex-mulheres e filhos [que estão em São Paulo].”

“Mas me lembro que foi nesta data [hoje, dia 20] que fui campeão mundial, o que foi muito importante para minha vida, minha carreira, minha família”, ressalta Sertão.

Mas, nos 10 anos de seu título, Sertão revela que tem uma mágoa. Ele fala da homenagem feita na cidade de Santos com a inauguração no ano passado de bustos dos também campeões mundiais Eder Jofre, Miguel de Oliveira e Popó. Sertão, ao que tudo indica, foi esquecido. “Fiquei magoado, chateado. Fazer o quê? Vou colocar nas mãos de Deus. Se tiveram quatro campeões mundiais brasileiros, tem que ter quatro estátuas, e não três”, argumenta o ex-boxeador.

A correção dessa injustiça histórica seria um belo presente de aniversário nos dez anos de seu cinturão, não seria?

Sertão comemora em 15 de novembro passado com amigos seus 41 anos

Sertão comemora em 15 de novembro passado com amigos seus 41 anos


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