Meu capítulo secreto na biografia de Lars Grael
Eduardo Ohata
Hoje no fim da tarde, a partir das 18h, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, lanço a biografia, escrita a quatro mãos, do medalhista olímpico Lars Grael. Iatista, a história de Lars ficou marcada pelo trágico acidente com uma lancha, na qual perdeu sua perna direita. O que não o impediu de se reinventar, com sucesso, várias e várias vezes.
Ter sido co-autor da biografia, ao lado do próprio Lars, representa para mim o fechamento de um ciclo.
Em 1998, quando cobri à distância o acidente no qual Lars foi vítima (enquanto se preparava para uma competição) e sua recuperação, ele já havia ganhado duas medalhas olímpicas e era visto como referência na vela brasileira, com total possibilidade de lutar por um outro em sua próxima participação. Quando perdeu a perna, todos deram como certo o fim de sua carreira esportiva. Eu também pensei assim. O próprio Lars pensou isso.
Quando Lars assumiu um cargo na Secretaria Nacional do Esporte, no ano seguinte, achei que se tratava de uma mera ação de marketing do governo FHC. Dei de ombros. Lars iria para lá, pouco, ou nada, faria. Seu mérito para ir para Brasília? O acidente. Naquela época, na minha imaturidade, tratei Lars com um certo desdém e até certa arrogância. Não pelo que ele havia feito pelo país, o que, inegavelmente, havia sido muito. Mas na minha cabeça, ele havia se ''vendido''. Aceitou um cargo para o qual não estava capacitado, se conformou com o papel de coitadinho.
Hoje, minha percepção é a de que Lars foi mais importante como gestor do que como atleta olímpico. Sim, isso mesmo. Você leu certo. Lars foi mais importante atrás de uma mesa, em reuniões com desportistas ou percorrendo o Brasil como gestor, do que ganhando as suas duas medalhas olímpicas ou outros títulos na vela.
Além de competente, divido aqui um episódio que revela uma outra característica de Lars: a honestidade.
Quando Lars ainda estava à frente da Secretaria Nacional de Esporte, recebi a informação de que algo ia mal no órgão que dirigia. Liguei para ele, em um dia que se comemorava algum feriado no Distrito Federal, pude ouvir ao fundo que ele brincava com o filho Nicolas. Pedi que me enviasse um documento que, qualquer um percebia, serviria apenas para produzir uma notícia negativa sobre o funcionamento da secretaria. A causa fugia ao controle de Lars, mas respingaria nele de toda a forma. Pois bem, Lars não apenas deixou sua família em casa, em um feriado, foi para seu escritório na secretaria, procurou os documentos que eu pedia e os enviou por fax (sim, estávamos na época do fax). Dei um obrigado, o que não impediu de publicar matéria mostrando alguma ineficácia em sua secretaria.
Dias depois, o problema na secretaria já estava sanado. Briguei com meu editor (''notícia boa não vende jornal'') para publicar uma nota mostrando a novidade. Só após muita insistência, a notícia acabou saindo.
Ao longo dos anos, e finalmente com seu título mundial na Star, conquistado este ano, Lars mostrou que não é um coitadinho, que é competente e que não, sua carreira esportiva não se encerrou em 1998. Longe disso.
Da minha parte, agradeço a oportunidade de acompanhar a mais importante saga de Lars, de 1998 até hoje.
Um forte abraço, amigo,