Odiado, McGregor impulsiona crescimento de vendas de pay-per-view no Brasil
Eduardo Ohata
Odiado pelo público que o vê como um falastrão, além de uma pedra no sapato do ídolo José Aldo, o irlandês Conor McGregor, ironicamente, foi um dos ingredientes que permitiu que o canal do UFC no Brasil não apenas passasse batido à crise financeira que atinge o país, mas apresentasse crescimento robusto nesse período, na casa dos dois dígitos.
Na contramão do que aconteceu no mercado de canais pagos, o UFC Combate cresceu 13% de 2014 para 2015, e a luta entre McGregor e José Aldo foi uma das grandes vendas do canal em 2015. Mesmo a derrota dele para Nate Diaz, que não repetiu a performance de vendas do duelo com o brasileiro (claro!), indicou que tem potencial no Brasil, independente de quem seja o seu oponente.
O público brasileiro virou a casaca e passou para o lado do irlandês?
Muito pelo contrário!
Se repete com ele o fenômeno que aconteceu na década de 60, quando muita gente assistia as lutas do campeão dos pesos-pesados Muhammad Ali torcendo para que alguém calasse a boca daquele (não coincidentemente) falastrão.
Também pudera, ao contrário de Joe Louis, que foi um grande campeão que media as palavras, Ali desafiava a tudo e a todos. Não tinha medo de se auto-declarar o ''maior de todos'', fez campanha contra a Guerra do Vietnã, que não pegou bem em um país extremamente patriótico, e aderiu ao movimento negro. Não. Nem de longe McGregor é o Muhammad Ali do MMA, mas segue sua escola de auto-promoção.
''Percebemos que muitas pessoas querem assisti-lo, pois querem vê-lo [McGregor] perder'', comenta Daniel Quiroga, gerente geral do UFC Combate. ''Mas já existe uma legião grande de fãs do McGregor no Brasil. Não há como negar, é um fenômeno. Lutadores como ele são importantes para o negócio, pois inflamam os fãs, geram interesse e atraem o público periférico [que não acompanha o MMA].''
Apesar dos bons números, o canal enfrenta o desafio da crise dos brasileiros dentro dos octógonos e pela crise financeira do país.
''O consumo do MMA está muito relacionado aos ídolos brasileiros. Apesar dos atletas estrangeiros que caíram nas graças do público brasileiro, como [o ex-campeão meio-pesado] Jon Jones, [a ex-campeã] Ronda Rousey e McGregor, sabemos que dependemos muito dos ídolos para manter uma curva positiva nos negócios'', admite Quiroga.
''Não queremos deixar que aconteça com o MMA o que aconteceu com a F-1 e o tênis, que tiveram grandes ídolos brasileiros como Ayrton Senna e Guga, mas cujo encerramento de seu ciclo também levaram junto o interesse do esporte pela população brasileira.''
Segundo o executivo, para evitar que isso aconteça, estão em andamento uma série de iniciativas para a renovação dos ídolos brasileiros, desenvolvimento de novos talentos e fomento da prática dos esportes de luta.
Quiroga não afasta os efeitos da crise econômica, mas crê que o canal poderá repetir a performance do ano passado e continuar apresentando crescimento.
''A crise é para todos os segmentos, todas as marcas que possuem algum tipo de operação e negócio no Brasil estão sendo afetadas pela crise. Claro que poderíamos ter tido um crescimento maior caso o poder aquisitivo da população estivesse mais estável, mas nossa base de assinantes vem crescendo. Temos uma oferta de lutas muito boa no primeiro semestre e a previsão é que o segundo semestre também acompanhe o primeiro.''
Além disso, cita também investimentos em novas plataformas, como os aplicativos abertos (voltados ao público em geral) e fechados (exclusivos para assinantes), redes sociais e no Combate Play, por meio do qual o assinante pode assistir ou rever lutas onde estiver.