COB usa mesma ‘arma tecnológica’ que inspirou filme de Brad Pitt
Eduardo Ohata
No filme “Jogada de Risco”, baseado em uma história real, Brad Pitt interpreta Billy Beane, gerente-geral da equipe de beisebol do Oakland, arma um time competitivo na temporada 2002, apesar de restrições financeiras, ao lançar mão de um sofisticado programa de análise estatística dos jogadores. Não importava a cor do jogador, se era bonito, feito, alto, baixo, ou se tinha cacoete. O programa escalou de acordo com habilidades individuais que, somadas, representariam o sucesso do time. Ele eliminou o fator emocional e o substituiu por uma lógica fria, mas eficiente.
Mas, isso é cinema. O que tem a ver, por exemplo, com a meta de medalhas do Comitê Olímpico Brasileiro e do governo federal para os Jogos Olímpicos do Rio-2016?
O escritório de projetos do COB adotou uma metodologia conhecida como AHP (Analytic Hierarchy Process, ou Processo de Análise Hierárquica), que defende que todas as decisões dentro de uma empresa ou entidade devem ser tomadas em prol de um objetivo final. O escritório implantou um programa de informática, em parceria com a Cisco, patrocinadora dos Jogos, que foi alimentado com dados de 250 mil atletas, tanto do Brasil quanto seus possíveis rivais na Olimpíada do Rio-2016, de instalações e centros esportivos, de projetos, entre outras informações, que calcula a contribuição de cada atleta, projeto ou ação para o objetivo final do COB, que é tornar o Brasil uma potência esportiva.
“O programa elimina o fator emocional da tomada de decisões, o que importa é o ROI [sigla para “Retorno do Investimento]”, explica o gerente geral de gestão, estratégia e marketing do COB, Helbert Costa, que como seu vocabulário indica, é oriundo do mercado financeiro e fica cercado por monitores que trazem dezenas de gráficos.
“Por meio de equações matemáticas definimos o peso das ações e se valem a pena ser feitas. Quando um dirigente bate na porta do COB pedindo R$ 5 mil para uma ação, o programa pesa o quanto ele colabora para o objetivo final. Vale mais a pena investir no hóquei sobre a grama, ou em ações de mídia social para atingir nosso objetivo?”, pergunta Costa, de forma retórica, para logo responder. “Por exemplo, nosso objetivo final representa 100%. Desse 100% total, 70% é desenvolvimento esportivo e 30%, imagem. Mas se o hóquei na grama representa 2% daqueles 70% e a mídia social representa 90% dos 30%, o investimento na mídia social vence, pois trará mais benefícios.”
Ou seja, segundo Costa, o programa funcionada como um filtro cibernético para quem vai pedir dinheiro.
O “objetivo final” a que tanto o executivo se refere passa, claro, pelo resultado na Olimpíada do Rio-2016. Segundo ele, um programa chamado “Cristall Ball”, que integra o programa-mãe, prevê que o Brasil conquistará entre 27 e 31 medalhas nos Jogos do Rio-2016, o suficiente para cumprir a meta de o país ficar entre os 10 melhores no quadro de medalhas. Costa lembra que vibrou muito quando Yane Marques, do pentatlo moderno, subiu ao pódio no último dia de competição nos Jogos de Londres, quando o completou o número de medalhas previsto por ele: 17.
Previsões à parte, Costa admite que não consegue prever com exatidão quem ganhará medalha no Rio. “As informações funcionam em forma conjunta. Por exemplo, se o atleta “A” tem 33% de chance de medalha, o atleta “B” tem 33% e o atleta “C” tem 33%, não sei quem vai ganhar, mas a soma da probabilidade dos três, 100%, aponta que um desses três vai medalhar.
A ideia é que esse recurso tecnológico seja repassado às confederações esportivas nacionais. O COB, conta Costa, está distribuindo R$ 4 milhões em equipamento a elas. Por meio desse equipamento, será possível contato em tempo real com cartolas e o monitoramento ao vivo dos treinamentos, como um tipo de “Big Brother”. Por isso mesmo, Costa e sua equipe ficam cercados por monitores com imagens de ginásios e gráficos de performance.
EUA, Canadá e Holanda foram alguns dos países que já procuraram o COB, interessados no sistema. O escritório de planejamento do COB recebeu há algumas semanas de uma publicação especializada o prêmio do melhor do país em 2015, superando Embraer e Telefônica na final. “Até mesmo o Comitê Olímpico Internacional já demonstrou interesse”, diz Costa. “Se é difícil convencer as pessoas a mudar a forma de tomar decisões, muda-se o ambiente de tomadas de decisões. O programa representa 100% de lógica”.
Porém, o próprio Costa reconhece que a palavra final nem sempre sairá das equações matemáticas e as decisões sairão em conjunto com seus pares, como Jorge Bichara, gerente geral de performance esportiva do COB, e Adriana Behar, gerente de planejamento esportivo do COB.
“Meu programa mostra que o atleta “X” está fazendo em 11 segundos o que fazia em 10, aponta essa queda. Mas, se me disseram que a queda de rendimento foi proposital para o atleta entregar mais nos Jogos, claro que estará tudo certo”, finaliza Costa.