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‘Ao Fla resta ir à Justiça americana’, diz Márcio Braga, sobre título de 87
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Eduardo Ohata

O presidente do Flamengo à época da Copa União, o correspondente ao Campeonato Brasileiro de 87, Márcio Braga, dispara contra o STF e a cartolagem, ao comentar a negativa do STF a recurso do clube, que tenta ser reconhecido como campeão nacional de 1987.

Entre os principais pontos, Márcio questiona a capacidade da Justiça, que deixou prescrever 68% das ações penais com foro privilegiado entre 2011 e 2016, critica as práticas da Federação de Futebol do Rio, apresenta seu argumento a favor do título do clube do qual foi seis vezes presidente e, por fim, faz uma ironia, ao dizer que “ao Flamengo só resta recorrer à Suprema Corte Americana”.

Leia abaixo a íntegra do texto escrito por Márcio Braga, a pedido do blog:

“O Supremo Tribunal Federal, atolado nos processos da Lava-Jato e cuja morosidade, segundo a FGV, deixou prescrever 68% das ações penais com foro privilegiado entre 2011 e 2016, decidiu que a CBF não poderia ter reconhecido Flamengo e Sport como campeões de 1987. Ainda que essa decisão até pudesse ter algum fundamento jurídico, pode o STF decidir sem fazer Justiça?

Contra fatos, não há argumentos. Se há um Campeão Brasileiro em 1987 é justamente o Flamengo, que conquistou o título em campo, vencendo Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Grêmio, Internacional, Bahia, Vasco, Botafogo, Fluminense e Coritiba.

Ou algum clube pode se dizer Campeão Brasileiro jogando apenas com Criciúma, Joinville, Portuguesa, Inter de Limeira, Bangu, Ceará, CSA de Alagoas, Treze da Paraíba, Guarani e Atlético Paranaense pré-Petraglia?

Contrariando o princípio da primazia da realidade, a sentença do STF faz do branco, preto e do quadrado, redondo. Só não é justa!

Inclusive, é bom lembrar que, na história recente da humanidade, leis e tribunais referendaram escravidão, apartheid e holocausto. O Flamengo sem dúvida está do lado certo da história, será que se pode dizer o mesmo do STF?

Para quem quiser se aprofundar nesse assunto, o livro “1987: a História Definitiva”, escrito pelo diplomata Pablo Duarte Cardoso, conta todos os detalhes sobre a Copa União e seus desdobramentos, mas, trocando em miúdos, esse imbróglio se resume a duas palavras: incompetência e desonestidade.

Em 1987, a CBF veio a público dizer que não teria condições de organizar o Campeonato Brasileiro. Os principais clubes do país então fizeram sozinhos a melhor competição da história.

Quando a cartolagem percebeu que os clubes poderiam seguir seu caminho sem a interferência nefasta da CBF e das Federações, resolveram montar um esquema para anular a iniciativa dos clubes promovendo outra competição, querendo que os clubes da primeira divisão disputassem o título com os clubes da segunda. Seria mais uma jabuticaba, algo inimaginável em qualquer outro lugar do mundo.

Desde então, essa camarilha de cartolas que se sucede entre si no comando das entidades de administração tenta roubar esse título do Flamengo, como vem roubando o futebol brasileiro há muito tempo.

E um parênteses, às vésperas das finais do Campeonato Carioca, fala-se mais no título de 1987, num sinal claro de esgotamento desse modelo anacrônico e autoritário de organização do futebol no Brasil, em que a Federação de Futebol do Rio de Janeiro tem lucro nos jogos do campeonato estadual, e os clubes amargam um prejuízo atrás do outro, sendo obrigados a jogar partidas sem a menor relevância e sem que ninguém sequer entenda a tabela nem o regulamento da competição.

Até hoje, só a justiça americana conseguiu processar e prender algum cartola do futebol brasileiro. Pelo visto, ao Flamengo, só resta mesmo recorrer à Suprema Corte Americana.”


Há 40 anos, Fla foi 1º a cobrar por direitos de TV. E levou dura dos rivais
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Eduardo Ohata

A partir de 2019, só os direitos de TV do Brasileiro representarão aos cofres dos clubes, por ano, valores próximos a R$ 1,8 bilhão.

Há 40 anos, porém, as agremiações de futebol não recebiam nada (difícil de acreditar, não?) pelos direitos de transmissão do Nacional. A TV Educativa ia aos estádios, gravava os jogos e os repassava às outras emissoras de TV, que comercializavam o produto.

A “quebra” foi provocada pelo Flamengo, que exigiu pagamento pelos direitos de TV de um Fla-Flu disputado no aniversário do clube, em 15 de novembro de 77, e foi criticada por outros clubes, irritou a cúpula da TV Globo, chegou ao gabinete do então presidente Geisel e acabou na Justiça.

“O Flamengo não é contra o televisamento dos jogos, pelo contrário, acha até importante. Mas quer ganhar também”, argumentou, à época, o então presidente flamenguista, Márcio Braga, segundo registros de jornais.

Para garantir seus direitos, o Flamengo entrou com pedido de liminar contra a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) e a Abert (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), que proibia a entrada de equipes de TV no Maracanã com equipamentos de filmagem, e que foi acolhido pela Justiça. O clube exigiu pelo registro das imagens do Fla-Flu o valor de um milhão e meio de cruzeiros.

O cartola, por sua ousadia, viu o caso chegar até o gabinete do presidente da República Ernesto Geisel e viu até seus pares virarem a cara e criticá-lo publicamente por sua iniciativa. Cartolas do Botafogo, por exemplo, dispararam contra o Flamengo: “agiu erradamente”, “errou na prática” e “foi precipitado”.

O presidente flamenguista levou um “puxão de orelha” até mesmo de Roberto Marinho, que o conhecia desde que era menino.

“Às vésperas do Fla-Flu, estava no Hippopotamus [badalada casa noturna da época], jantando com o João Carlos Magaldi [diretor de marketing do Flamengo e da Globo], quando um garçom me chamou”, lembra Marcio Braga. “Era o Roberto Marinho ao telefone, ele me deu um esculacho, perguntou como eu podia fazer aquilo. Pedi calma, mas respondeu que não conversava com quem o acionava na Justiça. O pior é que além do Magaldi, havia mais executivos da Globo na diretoria, como o Walter Clark, então aquela foi uma situação constrangedora.”

Mas, no fim, as emissoras pagaram para registrar o agora polêmico Fla-Flu e o resto, como dizem, é história.

“Dez anos depois daquele episódio, outra ruptura, quando desta vez com o apoio financeiro da Globo, organizamos a Copa União e vimos o nascimento do Clube dos 13. Décadas depois, ao retornar ao Flamengo, conseguimos verba pública para os clubes que formam atletas olímpicos, que não recebiam nada”, reflete Márcio Braga, 80. “Agora, com essa alteração de estatuto na CBF, que diminuiu o poder dos clubes, não tenho dúvida de que está na hora de uma outra ruptura. Está na hora de os clubes se unirem, e acho que o Flamengo, de novo, deveria estar à frente…”


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