Algoz de Ronda, Holly Holm está mais para Buster Douglas ou Chris Weidman?
Eduardo Ohata
Que a zebra imposta por Holly Holm sobre Ronda Rousey teve proporções semelhantes à de James ''Buster'' Douglas sobre Mike Tyson ou Chris Weidman sobre o ''Spider'' Anderson Silva é indiscutível. Mas com quem a ''Filha do Pastor'' Holm se parece mais? Com Douglas, o campeão ''fogo de palha'', que perdeu os cinturões logo na primeira defesa de título, ou com Weidman, que vem batendo o que de melhor a categoria dos médios do UFC tem a oferecer?
Definitivamente, Holly NÃO é Buster Douglas, que até o desafio a Tyson, em 1990, não tinha mostrado aquele ''algo a mais'' que define campeões. Pior, antes de bater Tyson, todas as vezes em que Douglas se viu cara a cara com uma adversidade, perdeu. Como quando foi derrotado na luta que estava vencendo pelo título da FIB, mais pelo cansaço do que por Tony ''TNT'' Tucker, ou quando foi batido por Mike ''The Giant'' White, um peso-pesado que após enfrentar Maguila no Brasil ficou mais um tempo aqui para fazer um ''bico'' como jogador de basquete.
Ao enfrentar Tyson, Douglas tirou forças de uma série de notícias ruins (a morte da mãe, separação da mulher, a notícia de que a mãe de seu filho estava com câncer e uma rusga com o pai) para bloquear o fator intimidatório de Tyson. Motivado, Douglas sobreviveu uma visita à lona no oitavo assalto para tirar a invencibilidade e a coroa de Tyson, mas perdeu logo em sua primeira defesa de título, quando apareceu para a luta BEM acima do peso.
Um ponto em comum de Holly com a trajetória de Weidman, é o histórico de consistência. Assim como Weidman se destacou no wrestling antes de entrar para o MMA, Holly foi campeã nacional de kickboxing e mundial de boxe, tanto que é considerada uma das CINCO melhores boxeadoras femininas da história. Nos ringues, sempre procurou o que havia de melhor em termos de adversárias para se provar. Foi assim que enfrentou Christy Martin, a lutadoras que frequentemente roubava a cena nas preliminares de Tyson na década de 90. Ou seja, o desejo de ser a melhor não foi algo que aconteceu durante um combate apenas.
Apesar de ter poucas lutas no MMA antes de enfrentar o Spider (assim como Holly ainda tem poucas lutas no MMA) e de sua origem no wrestling, Weidman não apenas ''mostrou serviço'' nesses combates, como a capacidade de adaptação, como quando venceu Demian Maia, que é um baita de um lutador de jiu-jitsu.
Da mesma forma, Holly conseguiu realizar a transição dos ringues para o octógono. Um exemplo? Na luta com Marion ''The Bruiser'' Reneau, mostrou que era mais do que uma boxeadora que lutava MMA ao conseguir se livrar da mesma chave-de-braço que a compatriota aplicara com efeitos devastadores na brasileira Jessica Andrade.
Outro ponto em comum com Weidman é a força mental, de não permitir que o adversário já suba no octógono com a luta ganha. Certamente a fama do ''Spider'' e de Ronda derrotaram rivais antes de subirem ao octógono.
Sim, os críticos podem apontar que na luta com Ronda, Holly preferiu voltar a lutar em pé, no boxe, quando as duas foram para o chão. Mas qual o mal nisso? Isso é lutar de forma esperta. Holly não precisa virar a melhor lutadora ''de chão'', do dia para a noite para construir uma trajetória vitoriosa. Conhecer o suficiente para se defender bem quando for para o solo, sim.
Para ilustrar essa lógica é só ver o trabalho de boxe que o técnico de boxe e MMA Pitu faz com Demian Maia. Seu objetivo não é transformar um lutador oriundo do jiu-jitsu em um nocauteador, agredindo sua natureza. Pitu ensina Maia a como lidar com um striker, como se defender dos ataques e a capitalizar as melhores oportunidades para levar a luta para o chão.
Vale o que o técnico que está com Holly desde o início, Mike Winkeljohn, diz, ''Holly não é mais uma boxeadora, ela é uma lutadora de MMA''. Holly não vai entregar o título de graça para ninguém. E nisso ela está mais para Chris Weidman do que para James ''Buster'' Douglas.