Blog do Ohata

Olimpíada já teve até bunker subterrâneo secreto para proteção de ataques

Eduardo Ohata

Há os Jogos Olímpicos e as Copas do Mundo que todo mundo vê, mas existe muita coisa ligada a esses grandes eventos que acontecem de uma forma que passa despercebida pelo grande público e pela mídia por questões de segurança.

Foi assim na Olimpíada de Pequim-08, quando o repórter fotográfico Caio Guatelli e eu descobrimos, totalmente sem querer, um reforçadíssimo bunker subterrâneo, sob o lindíssimo Cubo D´Água, onde aconteceram as competições de natação dos Jogos.

Antes das competições, Caio quis testar qual lente se adequava mais à luminosidade do local de competições, entrou no elevador e apertou, por engano, o botão que levava ao subsolo. Quando a porta se abriu revelou não o cenário iluminado e festivo que levava às raias olímpicas, mas um espaço escuro, cheio de engradados e equipamentos e coalhado de chineses em uniformes que lá trabalhavam. Em vez de ir para o andar das raias, ele desceu e deu um rápido giro por lá. Pouco depois, esbaforido, me ligou:

– Ohata, onde você está? Pode vir aqui no Cubo D´Água? Você não vai acreditar o que achei aqui.

Minutos depois me reuni ele, que rapidamente me levou ao bunker: uma estrutura com grossas paredes e uma porta que parecia de caixa-forte. Era pesadíssima, e só era possível trancá-la, ou abri-la, uma vez fechada, por dentro. No grosso vidro da janela, provavelmente à prova de bala, um aviso em inglês: ''Reservado para VIPs''. Pelos nossos cálculos, cabiam entre 100 e 150 pessoas.

Foi quando fomos surpreendidos por soldados chineses, que começaram a falar conosco e a gesticular  nervosamente. Pediram para ver nossas identificações (pelo menos foi o que entendemos), que obviamente não justificavam nossas presenças ali. Não era preciso entender mandarim para compreender o recado. Nos escoltaram em direção ao elevador e, aos gritos, nos fizeram abandonar o local.

Se tenho alguma dúvida de que se tratava de um bunker para políticos e dirigentes em caso de um ataque terrorista? Não.

Depois, durante a cobertura da Copa de 2014, tive a oportunidade de aprender um pouco mais sobre os segredos dos grandes eventos.

Descobrir que uma caixa d´água, localizada próxima ao estádio do Corinthians, que recebeu jogos da Copa, inclusive o de abertura, era vigiada dia e noite para afastar o risco do terror biológico. Quando comentei com uma autoridade que aquilo era paranoia e que o Brasil não tem tradição de ataques terroristas, meu interlocutor respondeu: ''Não tem tradição até acontecer pela primeira vez''.

Nem preciso dizer que a segurança na caixa d´água foi mantida até o término da Copa.

E provavelmente passou despercebido para quem frequenta diariamente os clubes da cidade, ou CDCs, que contingentes de soldados ficavam aquartelados em alguns deles. Sim, além da segurança anunciada oficialmente, havia grupos que, secretamente, ficavam de sobreaviso nos CDCs e em escolas (lembre-se, o calendário escolar foi alterado para que as crianças ficassem de férias naquela época), especialmente as próximas a locais de competição e aos CTs adotados pelas seleções estrangeiras.

Se vai haver uma Olimpíada desse tipo, que ninguém vê ou percebe, durante a Rio-2016? Para mim, não resta dúvida.