Promessa dos ringues emagrece 24 quilos e sonha com Jogos Olímpicos do Rio
Eduardo Ohata
Campeão dos Jogos Olímpicos da Juventude. Campeão mundial juvenil amador. Por conta desses dois títulos o boxeador David Lourenço, 24, acaba de ser convidado para ser um dos condutores da tocha olímpica no Brasil.
Ele ficou feliz, mas não quer apenas correr com a tocha, mas participar da Olimpíada do Rio. Afinal, era isso que todos projetavam para ele há alguns anos. Não apenas isso, ele era tido como uma das grandes esperanças de medalha na Olimpíada que acontece este ano por conta de suas conquistas.
Porém nesse percurso, se desiludiu com familiares, que segundo ele mesmo, o viam apenas como um ''cofrinho'', uma fonte de renda. Começou a beber, protagonizou episódios de desaparecimento, abandonou os treinamentos e, de 79 quilos, viu seu peso aumentar para 93 quilos. A renda mensal, que segundo o atleta ultrapassava os R$ 15 mil na época de garoto prodígio, encolheu para os R$ 800 atuais.
Foi quando, por acaso, ao entrar no Facebook, começou a conversar com Ricardo Rodrigues, técnico que o descobriu, mas com quem não falava há anos. Mas as lembranças eram boas. E engraçadas.
Foi Rodrigues quem usou o dinheiro que serviria para sua lua de mel com a mulher Valéria para pagar a passagem para David ir disputar seu primeiro Brasileiro de cadetes (o treinador levou uma baita bronca de sua mulher), o que lhe abriu a porta da seleção brasileira. Que em pouco tempo lhe rendeu os títulos de campeão mundial juvenil, em 2010, quando nenhum brasileiro havia chegado a nenhum título mundial amador de qualquer espécie.
No mesmo ano foi campeão nos Jogos Olímpicos da Juventude, competição que projeta os destaques do esporte que, pelo menos na teoria, dentro de poucos anos estarão brilhando nas suas respectivas modalidades.
A partir da conversa via mídia social, em 2014, o técnico o resgatou.
Em cerca de um ano, David perdeu os 24 quilos de excesso de peso. Ao comparar uma foto de quando estava com 93 quilos a uma atual, David ri, tampa o rosto com as mãos. ''Parece aquelas propagandas [comerciais] de antes e depois.''
Sob o olhar de Rodrigues, David participou de algumas competições, voltou a treinar firme. Casou, o que ajudou a estabilizar sua vida pessoal. E, recentemente, voltou a frequentar a seleção. Bem, de uma certa forma. O boxeador foi convidado para colaborar como ''sparring'' (parceiro de treinos com luvas) de atletas da seleção.
''Eu acredito que nada é impossível'', diz Rodrigues, lembrando de uma passagem de sua própria história. ''Nos meus tempos de atleta, eu já era 'carta fora do baralho', mas fui convocado faltando apenas 20 dias da seletiva olímpica [para os Jogos de Atlanta-96].''
''Se não acreditasse que o David será campeão olímpico, não estaria investindo esses últimos dois anos nele. Ele não está participando de tantas competições, mas está em ritmo de preparação olímpica. Aceitamos voltar à seleção como sparring para que os técnicos da seleção pudessem ver a forma dele'', argumenta o treinador. ''Dizem que a seleção está fechada, mas sei que tudo é possível.''
Porém a seleção que disputará a última seletiva olímpica já está formada, e não inclui David.
''Sparring é sparring, ele está nos ajudando, mas não quer dizer que irá para a Olimpíada'', explica Claudio Aires, técnico da seleção brasileira de boxe. ''O titular da categoria até 69 quilos é o Roberto Custódio.''
''Mas… Se o Roberto cair e quebrar o braço, o pessoal da seleção sabe que pode contar com o David'', contra-argumenta Rodrigues.
''Hmmm. Mas se começar a pensar nesse tipo de coisa, estamos sendo muito pessimistas'', argumenta Aires.
E David? O que pensa aquele que há não muito tempo era aposta certa de pódio para a Rio-16?
''Estou treinando como se a vaga fosse minha, vou ser campeão olímpico de novo'', diz, um fio de suor escorrendo por seu rosto logo após encerrar mais uma sessão de treinos, David.