Eu pedi para levar um soco do Mike Tyson… E sobrevivi para contar!
Eduardo Ohata
Sim, você leu certo. O título não é nenhuma pegadinha. Eu pedi para Mike Tyson me dar um soco. E sobrevivi para contar!
Foi durante a visita de “Iron” Mike (que hoje comemora 50 anos) a São Paulo, em 2005. No já deserto lobby do hotel onde ficou hospedado na região da Oscar Freire, após entrevistá-lo em seu quarto tarde da noite, olhei para ele e perguntei:
– Pode me dar um soco?
– O quê?, perguntou, em inglês (claro!). No rosto, uma expressão de “acho que não entendi o que você falou”.
– Sabe o que é? Gostaria de saber como é o soco de um campeão mundial dos pesos-pesados, expliquei, sério.
Apontei o punho em sua direção, e levantei a guarda (um pouco enferrujada, é verdade, desde a época em que fui pupilo do medalhista olímpico Servílio de Oliveira).
Tyson fez movimentação de sombra (simulação de luta), ensaiou dar um golpe de direita, que viria de cima para baixo. Mas parou quando viu que não saí correndo. Fiquei parado, guarda extremamente fechada, claro, esperando o golpe para tentar me esquivar.
Ele ficou olhando, meio sem saber o que fazer, baixou o braço e balançou a cabeça em um sinal de “negativo”.
– Não vou fazer isso, explicou, com um sorriso amarelo.
Foi nesse momento que chegou meu colega naquela cobertura, o repórter-fotográfico André Porto, que testemunhou a cena de longe e perguntou o que havia acontecido. Ele riu quando contei e, como não haviam outros jornalistas no hotel, voltamos para o jornal.
Esse bastidor daquela cobertura que havia ficado parcialmente em segredo até agora.
O resto está registrada nas edições da “Folha de S.Paulo” da época.
Como, por exemplo, ele me ameaçou de agressão quando fui correndo em sua direção ao vê-lo saindo do elevador no dia em que chegou ao hotel. Ou como ele disse que iria “bater em alguém” caso uma fileira de fotógrafos não parasse de tirar fotos (o problema? Eu estava entre ele e os fotógrafos, e não conseguia me afastar porque os fotógrafos haviam formado um “paredão”).
Por fim, graças a dois conhecidos em comum, Sidney Ubeda, meu grande amigo, e o português Mario Costa, proprietário da lanchonete White Mana, frequentada por Tyson, consegui a entrevista, ao fim da qual os olhos de “Iron” Mike ficaram marejados (descubra o motivo lendo a entrevista com Tyson aqui e aqui).
Ele revelou coisas até então desconhecidos e que repetiria só anos depois em sua biografia, como o fato de ter usado óculos na infância.
Foi ao seu final que me senti à vontade para, no lobby, pedir para que me desse um, e apenas um, soco.
Deixei a entrevista convencido de que Tyson não é o monstro que todos imaginam. A impressão que me deu é de que, apesar da idade, ainda era um garoto, imaturo, cujo principal pecado era não assumir responsabilidade por seus atos e, pior, por seu próprio destino.
Mas, agora maduro, Tyson parece ter mudado, para melhor, o rumo de sua vida.
Feliz 50 anos, Mike.
PS: Para quem quer matar a saudade do Tyson nos ringues, a ESPN exibe hoje, a partir das 22h15, uma programação que inclui um programa especial e lutas clássicas do início da carreira do “Kid Dynamite” e suas defesas de título contra Frank Bruno (I) e James “Buster” Douglas.