‘Orçamento mostrará importância do esporte para o governo’, diz ex-ministro
Eduardo Ohata
“Muita gente do mundo do desporto tem expressado, de forma velada, apreensão em relação a um possível fim dos investimentos no esporte”.
É assim que o ex-ministro do Esporte Ricardo Leyser define o momento atual, que pode ser classificado como a ressaca pós-olímpica (ou, mais especificamente, pós-Rio-2016).
Mais do que cerimônias em que atletas são recebidos e homenageados pelas mais diversas autoridades, a medida do status dos desportistas brasileiros será conhecida, isso sim, quando elas tiverem que “colocar as mãos nos bolsos”.
“Logo teremos essa resposta”, argumenta Leyser, tido por muitos com o o homem que tinha a Rio-2016 na cabeça, já que mesmo antes do início do atual ciclo olímpico que se encerrou agora cuidou do alto rendimento na pasta. “O governo federal apresentará nos próximos dias a lei orçamentária para 2017, o que dará uma ideia sobre o que realmente a atual gestão pensa em termos de política esportiva. Então, vai aprimorar, investir, ou fechar? É importante ficar de olho.”
Segundo o dirigente, o Brasil finalmente descobriu a receita para desenvolver o esporte. Ele defende sua continuidade para o próximo ciclo olímpico, mirando Tóquio-2020, e as próximas edições dos Jogos.
“O modelo do COB [Comitê Olímpico do Brasil] é muito concentrador, precisa mudar”, apont0u Leyser. “As confederações ficam um pouco distantes, frágeis. Em um primeiro momento o modelo atual foi necessário, mas agora a verba da lei Piva poderia ser mais utilizada com qualificação técnica e profissional das confederações do que com gastos administrativos do COB.”
“O que o governo fez quando estive lá, foi desconcentrar investimentos e pulverizá-lo em modalidades em que poucos apostavam que renderiam medalhas, como a canoagem do Isaquias [Queiroz, que conquistou três medalhas], o tiro, ou a ginástica”, diz o dirigente, acrescentando que pode-se fazer mais. “Um exemplo é a luta olímpica, que em um primeiro momento não pediu um centro de treinamento dentro da rede nacional de treinamento, mas manifestou interesse depois.”
No caso do investimento em atletas, a Rio-2016 também mostrou, segundo Leyser, que a desconcentração é o caminho. “No caso da ginástica, onde vários atletas tinham condições de brigar por medalha [na Rio-2016], dá para ver que o investimento não precisa ser focado em apenas um atleta especificamente.”
Leyser pôs em perspectiva o fato de a delegação brasileira não ter atingido a meta de ficar entre os top ten em número de medalhas, objetivo fixado pelo governo federal lá atrás e adotado pelo COB. “Poderíamos ter alcançado a meta, contávamos com algumas medalhas que não vieram. Poderia ter sido melhor, ou pior, mas o bom de fixar uma meta é que ela nos serviu como parâmetro.”
É importante levar em consideração os resultados inéditos, que não necessariamente valeram medalhas, alcançados por várias modalidades na Rio-2016, e que podem se converter em ouro, prata ou bronze, em mais um ou dois ciclos olímpicos, acredita o dirigente. “Foi o caso do atletismo, por exemplo, com finais inéditas.”
A receita da campanha da delegação brasileira, que considera positiva, segundo Leyser, é que ela teve vários “pais”, que foram do governo federal até o COB, passando pelas confederações, Exército, clubes formadores e patrocinadores estatais e particulares.