Nomeação de inadimplente em comitê de Arena Corinthians irrita conselheiros
Eduardo Ohata
A nomeação pelo presidente do conselho deliberativo do Corinthians, Guilherme Strenger, de um comitê para investigar questões ligadas à Arena Corinthians e à Odebrecht irritou lideranças do clube.
A formação do grupo foi motivada por supostas cobranças indevidas realizadas pela Odebrecht, supostas irregularidades referentes à construção da arena e suposta ocorrência de irregularidade para antecipar incentivos da arena e superfaturamentos.
Entre os seus objetivos estão a produção de um relatório em até 60 dias para analisar o trabalho de auditorias realizadas, analisar a adequação da construção em relação ao projeto executivo, analisar contratos de exploração da arena, verificar o estágio atual de execução, avaliar a compatibilidade dos custos com o que foi feito até agora, analisar alterações contratuais efetuadas e propor estratégias de negociação para o clube junto ao Fundo Arena.
Os conselheiros nomeados por Strenger foram: Jorge Kalil, Antonio Roque Citadini, Carlos Luque, Armando José Terreri Rossi Mendonça, Thales Cesar de Oliveira, Pedro Luis Soares e José Carlos Alves. Adicionalmente, foram chamados também os associados, ambos engenheiros, Marcelo José Brandão Machado e Roberto Ferreira de Souza.
Conselheiros notáveis ficaram insatisfeitos com a indicação dos nomes, entre eles Romeu Tuma Junior, ex-secretário Nacional de Justiça.
Tuma diz não entender o motivo de ter sido preterido.
''Eu que sugeri a criação desse comitê, depois que o outro comitê criado para investigar as questões da arena não ter tido efeito. Não entendo porquê não estou lá, se tem gente que estava no comitê anterior e inclusive havia se pronunciado a favor da Odebrecht'', questiona Tuma. ''Não dá para entender.''
O presidente do conselho deliberativo justificou sua escolha como sendo pessoal. ''Temos 370 conselheiros, mais ou menos, e penso que muitos acham que são capazes. Respeito o conselheiro Tuma, mas nada me obriga a convocá-lo.''
O ex-secretário nacional de segurança ficou incomodado com outro problema que diz ter detectado.
''Tem associado do clube indicado para esse conselho, o Marcelo [José Brandão] que está inadimplente há dois anos e soube que agora está correndo para regularizar sua situação'', dispara Tuma. ''Se é para julgar se algo está certo ou errado, como pode colocar alguém que está em débito?''
Segundo Strenger, o associado não é membro da comissão, mas apenas auxiliará o grupo.
''Ele estava viajando e por isso não pagou [a mensalidade], mas soube que na próxima segunda-feira pagará a parcela'', explicou o presidente do conselho deliberativo.
Há poucas semanas, Husni havia falado da importância da formação de uma nova comissão para ficar encima da questão do estádio, apontando que os melhores engenheiros, juristas, arquitetos, contadores, entre os conselheiros do clube deveriam ser chamados para compor essa comissão e havia, inclusive, manifestado sua disposição em ajudar nesse grupo. Ele ficou de fora.
''De novo, tenho o máximo respeito pelo Husni, mas nada me obriga a nomeá-lo na comissão'', justificou Strenger.
Outros, além de Tuma, que preferiram não ser identificados, questionaram a presença de um médico, Jorge Kalil, na lista que versa sobre um assunto ligado à engenharia.
A Odebrecht informou que o comitê anterior, apesar de ter reclamado de a construtora ter omitido documentos, disse que jamais foi abordada pelo grupo.
''Quem disse que a Odebrecht não repassa documentos por uma questão de confidencialidade foi o presidente [do Corinthians, Roberto de Andrade]. Mas, agora, se pedirmos documentos e eles negarem, vamos apelar à Justiça'', conclui Strenger.