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‘Rio-16 corre risco de ser Olimpíada trágica’, afirma manda-chuva do boxe
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Eduardo Ohata

O presidente do Conselho Mundial de Boxe, principal entidade do boxe profissional, Mauricio Sulaiman, vê risco de a Rio-16 ficar marcada como “uma olimpíada trágica” por conta da decisão que permite que profissionais dividam os ringues com amadores.

O dirigente mexicano alerta, em carta aberta enviada com exclusividade a esse blog, que essa é uma das “mais perigosas ações contra o esporte que foi um dos fundadores da Olimpíada” e refuta comparações com o que acontece no basquete com o Dream Team.

“O boxe não é [como o basquete] um jogo onde se anota pontos ou cestas, é um esporte de alta periculosidade à integridade física, especialmente quando há disparidade [de nível técnico] entre os competidores”.

“É altamente perigoso pensar que qualquer boxeador profissional, não importa seu nível, possa competir contra qualquer boxeador amador na Olimpíada”, afirma Sulaiman. “Fica nas mãos de todos aqueles que votaram a favor dessa medida a responsabilidade por uma possível tragédia que mancharia com  sangue inocente suas mãos e sua moral, marcada exclusivamente pela marca do dinheiro”.

Segundo o dirigente, ele espera que os únicos boxeadores profissionais que participem dos Jogos do Rio sejam atletas do nível de principiantes acostumados a apenas lutas de quatro assaltos [lutas por título acontecem em 12 assaltos].

Confira a íntegra do documento abaixo:

“O Conselho Mundial Boxe, firme em sua oposição à participação de boxeadores profissionais nos Jogos Olímpicos do Rio-2016

 

O Conselho Mundial de Boxe tem expressado incansavelmente sua preocupação, a mesma de milhares de pessoas da comunidade do boxe mundial, em relação à proposta da Aiba de permitir que boxeadores profissionais lutem nos Jogos Olímpicos do Rio.

Essa decisão, que foi anunciada hoje [ontem], marca a história do boxe como uma das mais perigosas ações que alguém já cometeu contra o esporte que nasceu 8.000 anos A.C.; o esporte que foi um dos fundadores das olimpíadas originais e o esporte dos poucos que oferecem oportunidade a qualquer país de obter uma medalha olímpica sem importar sua economia, sua estrutura social ou cultural.

O boxe não é um jogo onde se anotam pontos ou cestas; é um esporte de alta periculosidade para a integridade física, especialmente quando há disparidade entre os competidores.

A Rio-2016 corre o risco de ficar marcada como uma olimpíada trágica se a Aiba não proceder com o máximo cuidado ao estabelecer seu plano de trabalho. É altamente perigoso pensar que qualquer boxeador profissional, não importa seu nível, possa competir com qualquer boxeador amador na Olimpíada.

No boxe profissional existem níveis, normalmente são estabelecidos por meio do número de assaltos que se compete, sejam quatro, seis, oito, dez, ou as lutas de título que são em 12 assaltos. Logicamente é impensável que um novato de quatro assaltos vá competir contra um campeão em 12 assaltos.

A objeção absoluta e total a esse assunto está baseada na preocupação com a segurança dos atletas, mas há outras graves incongruências na maneira de proceder da Aiba o que estão publicando hoje [ontem] em seu press release.

Um de seus comunicados fala de um estudo médico que determina a abolição do protetor de cabeça para as lutas [uma das novidades da Olimpíada do Rio], enquanto na realidade tal estudo carece absoluta e totalmente de uma interpretação médica e só engloba estatísticas com um alto grau de confusão e manipulação em sua interpretação.

Por outro lado reconhecem como “Boxeador Profissional Não-Aiba” qualquer boxeador profissional que deseje participar da Olimpíada. Há evidências intermináveis de práticas monopolísticas e de abuso de poder que a Aiba aplicou em muitos países, prejudicando no processo o boxe amador e acabando com estruturas e plataformas para a proteção desse esporte no mundo.

Há muitos outros assuntos para rebater e combater no que a Aiba faz, mas o assunto principal, sem dúvida alguma, é a grave preocupação do que pode acontecer nessa olimpíada quando acontecerem, se é que irão acontecer, lutas entre boxeadores novatos e jovens com boxeadores experientes no boxe profissional, com diferente estrutura física e mental.

O único motivo para a Aiba tomar essa decisão é evidentemente comercial, e se atreve a se comparar [o boxe] com outros esportes, como o basquete, o tênis etc.

Temos ainda a esperança de que qualquer boxeador profissional que for à Olimpíada do Rio-2016 seja de um nível básico e elementar, por exemplo boxeadores de quatro assaltos, e que não participem campeões mundiais ou boxeadores que pelos motivos explanados anteriormente possam chegar a causar danos permanentes a boxeadores amadores.

Fica na mão de todos aqueles que votaram a favor dessa medida a responsabilidade por uma possível tragédia que encheria de sangue inocente suas mãos e sua moral que está marcada exclusivamente pela marca do dinheiro”.

Além de manifestações de várias entidades do boxe como a União Europeia de Boxe, Federação Norte-Americana de Boxe e Federação do Oriente e Pacífico, o dirigente destacou  manifestações de ex-campeões contra a decisão da Aiba. A seguir, o resumo de algumas delas:

“Permitir que profissionais lutem com amadores é um crime. Coloca em risco vidas e carreiras de jovens boxeadores” – Julio Cesar Chávez, ex-campeão em várias categorias de peso.

“De repente você poderia ter alguém como [o ex-campeão profissional dos pesados] Wladimir Klitschko, que foi ouro em Atlanta-96, e tem muito mais experiência, contra um garoto de 18 anos com apenas 10 lutas” – Lennox Lewis, ex-campeão mundial dos pesados e  campeão olímpico super-pesado na olimpíada de Seul-88.

“Quando um garoto de 17 anos da Suécia enfrentar um americano campeão mundial de 30 anos e for colocado em coma, todos irão perguntar: “Por que permitiram que isso acontecesse?” David Haye, ex-campeão dos pesados

 

 

 

 


Treinar 1 mês e participar da Olimpíada. Absurdo? Pode acontecer na Rio-16
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Eduardo Ohata

Treinar apenas um mês para competir nos Jogos Olímpicos. À primeira vista, pode parecer absurdo. Ou impossível. Mas é o que pode acontecer na Olimpíada do Rio. Depende da votação da Aiba, em 1º de junho, que definirá se profissionais poderão lutar nos Jogos.

Primeiro, o que na minha opinião são as boas notícias.

Em entrevista a este blog, CK Wu, presidente da Aiba, entidade que controla o boxe na Olimpíada, garantiu que não haverá injustiças. Quem já garantiu sua vaga não corre mais o risco de perdê-la, ouviu, Robson Conceição? Como consequência direta dessa decisão, se o congresso da Aiba definir dia 1º de junho pela participação de boxeadores profissionais na Olimpíada do Rio, o que ainda é um grande SE, haverá um “teto” de no máximo 26 vagas para a participação de profissionais. É esse o número de vagas em jogo na última qualificatória, que será disputada entre o fim de junho e início de julho. E os profissionais selecionados por suas confederações nacionais para ir aos Jogos ainda terão de disputar essas 26 vagas com amadores. No total, haverá 250 boxeadores na Olimpíada.

As más notícias? Se os profissionais participarem dessa última seletiva, e se ela de fato ocorrer no começo de julho, os profissionais terão apenas um mês para se preparar para a Olimpíada.

À primeira vista, parece fácil. Afinal, profissionais estão preparados para lutar até 12 assaltos de 3 minutos cada, e os amadores lutam apenas 3 assaltos de três minutos cada, certo? Mas o ritmo é totalmente diferente. Enquanto o profissional é treinado para dosar sua performance, os amadores saem com tudo, já que estão acostumados com o pouco tempo para definir o vencedor de um combate.

Se a vantagem do profissional fosse tão automática, não teriam feito tanto esforço na década de 70 para tentar realizar a “luta dos sonhos” entre o tricampeão mundial profissional dos pesados Muhammad Ali e o cubano tricampeão olímpico Teófilo Stevenson.

É muito pouco tempo para um profissional se adaptar.

E nem adianta os profissionais começarem a treinar desde já, pois os critérios serão definidos após o congresso extraordinário. E nenhum promotor de boxe que se preze liberaria seu contratado a participar dos Jogos tão encima da hora.

Uma solução muito melhor seria aprovar a mudança, mas efetivá-la somente na Olimpíada de Tóquio, daqui a quatro anos, quando haveria tempo hábil para todos estarem plenamente adaptados à novidade.

E como fica o Comitê Olímpico Internacional nessa história? O COI, oficialmente, diz não saber sobre essa possível mudança de regras.

CK Wu, porém, diz que o COI tem ciência e apoia totalmente a novidade, que tornaria o boxe nos Jogos muito mais comercial. E aponta que vários outros esportes na Olimpíada tem a presença de profissionais. Verdade, o maior exemplo é o basquete, com as várias encarnações do “Dream Team”. Olhando para nosso próprio umbigo, o futebol olímpico também permite a participação de pros.

De novo, vou bater na tecla de que testar a novidade antes dos Jogos é uma necessidade. Por que não, perguntei a CK Wu, a introdução de profissionais não foi testada no Mundial do Qatar? A vantagem adicional é a implantação nem teria tido que passar pelo crivo do COI, já que a Aiba tem total autonomia no gerenciamento dos Mundiais.

“Essa é uma mudança histórica, então tínhamos que ter a família da Aiba inteira por trás da decisão antes de torná-la pública”, argumentou Wu. “Fizemos uma pesquisa e, em uma reunião em Manchester, os 110 delegados que participaram deram retornos positivos [à ideia de profissionais na Olimpíada]. O passo final acontecerá no congresso extraordinário no dia primeiro de junho.”


‘Olimpíada é por honra, não por dinheiro’, diz Foreman sobre pros na Rio-16
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Eduardo Ohata

Ex-campeão mundial dos pesos-pesados e ex-campeão olímpico, o americano George Foreman criticou a polêmica iniciativa de permitirem que lutadores profissionais participem dos Jogos Olímpicos divulgado recentemente pelo presidente da AIBA (Associação Internacional de Boxe), CK Wu.

“Sou contra profissionais na Olimpíada, nunca gostei dessa ideia”, posicionou-se Foreman, durante contato telefônico com este blog. “Os Jogos Olímpicos têm a ver com honra, não com dinheiro. Profissionalismo quer dizer ‘por dinheiro’. Quando fui campeão olímpico, lutei pela honra, não por dólares ou centavos. Ao abrir [a Olimpíada] para profissionais, tudo passa a ser em função do dinheiro.”

Durante a Olimpíada do México, Foreman festejou o ouro olímpico acenando do pódio para o público com uma bandeirinha norte-americana. Durante toda a carreira de “Big” George, a imagem foi usada na promoção de seus combates mais importantes. E é justamente esse momento que faz Foreman criticar a participação de profissionais na Olimpíada, ao ser questionado sobre o que acharia se a novidade estivesse em vigor em 1968.

“Ohhh, teria sido terrível. Eu não teria tido chance”, imagina o ex-campeão. “[Se implantarem essa regra] será o fim de uma coisa boa, o fim do amadorismo. Fim de jogo, sem chance. Não dá para um amador competir com um profissional. [A Olimpíada] passará a ser sobre o dinheiro, e eu acho que todos devem ter a oportunidade de ser felizes.”

Foreman, porém, nutre a esperança de que os dirigentes mudem de ideia e não coloquem em prática a ideia.

“Espero que eles [dirigentes da Aiba] mudem de ideia, senão será uma boa coisa que eles estarão estragando. Não dá para você falar para os profissionais não participarem, todos vão querer [lutar na Olimpíada].”

Após se tornar campeão olímpico, seguindo os passos de Joe Frazier e Muhammad Ali (este na categoria dos meio-pesados), só aí Foreman passou para o profissionalismo. Conquistou o título mundial dos pesos-pesados.

“Big” George participou da luta mais famosa da história do boxe, a “Rumble in the Jungle” (“Batalha na Selva”), que rendeu livro de Norman Mailer (“A Luta”) e o documentário ganhador do Oscar (“Quando Éramos Reis”). Tornou-se pastor, ficou fora dos ringues durante dez anos, voltou a lutar e recuperou o título mundial dos pesados aos 45 anos de idade.

#LENDAS10: Muhammad Ali só ganhou um ouro olímpico. E quase ficou sem por causa do medo de avião


Brasileiro favorito a medalha, 2º melhor do mundo, abandonará boxe olímpico
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Eduardo Ohata

Segundo colocado no ranking da Aiba (entidade que controla o boxe olímpico) entre os leves (até 60 quilos), o brasileiro Robson Conceição, 27, já decidiu que não importa seu desempenho na Olimpíada do Rio este ano, passará ao boxe profissional após os Jogos. A informação foi confirmada por seu treinador, Luis Carlos Dórea, que guiou um outro pugilista baiano, Acelino “Popó” Freitas, até seu primeiro título mundial profissional.

Segundo do ranking dos leves, o braileiro Robson Conceição comemora vitória

Segundo do ranking dos leves, o braileiro Robson Conceição (à direita) comemora vitória

“Estou com 27 anos, já está mais do que na hora de virar profissional, não?”, pergunta, de forma retórica, Conceição, que ganhou medalhas nos últimos dois Mundiais: uma prata e um bronze. O apelo da glória e riqueza alcançado por lutadores como o “Golden Boy” Oscar de la Hoya ou Floyd “Money” Mayweather Jr. é irresistível.

“Não posso dizer a data exata, mas o Robson vai virar profissional, sim, após a Olimpíada do Rio”, reitera Dórea.

Por conta da boa campanha que vem desenvolvendo, na última edição do ranking mundial da Aiba o brasileiro aparece atrás somente do cubano Lazaro Estrada. Ou seja, pela Aiba, ele é o melhor leve do mundo hoje.

Dirigentes da entidade ouvidos por este blog reconhecem que a maior chance de medalha do Brasil nos Jogos Olímpicos é Conceição.

“Já tenho medalha em Mundial [uma prata e um bronze], só falta para mim uma medalha olímpica”, explica Conceição sobre sua permanência no amadorismo.

Porém para evitar o êxodo de lutadores como o brasileiro para o boxe profissional e valorizar os Jogos Olímpicos, a Aiba teve de colocar em prática uma estratégia financeira ao assinar durante o período da Olimpíada de Londres, quatro anos atrás, contratos que valem até a Rio-2016 com um número de atletas que gira entre 80 e 100 boxeadores.

Para o próximo ciclo, que irá da Olimpíada do Rio até os Jogos de Tóquio-2020, a entidade planeja aumentar o investimento para “segurar” talentos: Quer assinar com 12 lutadores de cada categoria, mais alguns, dependendo do dinheiro que tiver em caixa para isso. Porém nem isso é garantia de que os melhores permanecerão no amadorismo.

Dois outros atletas que inicialmente haviam assinado depois de Londres-12 com a Aiba foram os irmãos Falcão, Esquiva e Yamaguchi, medalhistas em Londres-12, cujos acordos com a entidade não duraram. Este blog apurou que o presidente da Aiba, CK Wu, ficou bastante irritado por a dupla não ter feito durante o período de um ano uma luta sequer dentro do contrato que começou a contar da Olimpíada de Londres. A Aiba não renovou e Yamaguchi fechou com a Golden Boy e Esquiva, com a Top Rank.

Aproveito este post para convidar a todos para participar de um bate-papo amanhã, dia 9 de janeiro, sábado, a partir das 9h, dentro do programa Sesc Verão 2016, no Sesc São Caetano, no Parque Espaço Verde Chico Mendes, com as participações de Robson Conceição e deste blogueiro. A entrada é franca.

Outro evento do mesmo programa que recomendo é o bate-papo com o medalhista olímpico Lars Grael, que no ano passado se sagrou campeão mundial de vela na classe Star e de quem tive o prazer de escrever a quatro mãos sua biografia. Acontece no domingo, dia 10, a partir das 16h, no Sesc Santo André, também com entrada franca.

 

 


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