“Não vou renovar o patrocínio para uma pessoa inimiga”, diz Leila
Eduardo Ohata
Em meio a uma guerra política com o ex-padrinho político Mustafá Contursi, que passa pela campanha pelo aumento do mandato do aliado e presidente do Palmeiras, Mauricio Galiotte, Leila Pereira acena com a possibilidade de a Crefisa deixar de patrocinar o clube. Em entrevista ao blog durante evento com sócios e conselheiros pelo “sim” à reforma do estatuto, a empresária afirmou que se a coalização que trabalha pelo “não” eleger um candidato de oposição à presidência, a Crefisa deixa o clube.
Em prol da alteração do estatuto do Palmeiras, que por tabela facilita uma eventual candidatura à presidência em 2021, Leila argumentou que aqueles que trabalham contra (leia-se Mustafá) são “retrógrados”. Está nos seus planos estender o embate com Mustafá, que chegou à esfera policial por causa de um suposto caso de cambismo com ingressos da Crefisa, à eleição do Conselho Deliberativo em fevereiro do ano que vem, quando buscará minar a influência do ex-presidente no órgão e, por consequência, na vida política do Palmeiras.
Blog do Ohata: Nesta semana o Comitê de Orientação Fiscal do Palmeiras rejeitou outro balancete da gestão. Você pretende colocar o pé no freio nos investimentos em jogadores enquanto isso estiver se repetindo?
Leila Pereira: Os problemas nesse órgão são eminentemente políticos, isso é obvio. O clube é superavitário, vai fechar o primeiro trimestre com lucro de R$ 40 milhões. Isso vai ser resolvido no Conselho Deliberativo, que dá a última palavra. O presidente não nos pediu mais ajuda financeira em novas contratações, mas se tiver, terá de ser nos termos desse novo contrato, como foi o caso do Lucas Lima, no qual contribuímos na aquisição através desse novo modelo. De lá para cá, não houve nova solicitação do presidente [Mauricio Galiotte]. Não posso dizer, ‘nunca mais vou fazer isso’. Se tiver condições, se o valor for dentro do orçamento, estou sempre aqui para contribuir com o Palmeiras. Essa dificuldade que está se criando é de caráter político, vem do grupo que patrocina o ‘não’ às reformas que serão votadas na assembleia geral do dia 4 [de agosto], são os mesmos que derrubaram o Palmeiras duas vezes à segunda divisão. [Enfática] são esses.
Você está se referindo aos ex-presidentes Mustafá e Tirone?
Não quero citar nomes, mas todos sabemos. São essas pessoas que estão lutando pelo não, que encabeçam a reprovação das contas. Se não são só essas, são pessoas que estão indo na linha dessa gente. O que eu acho mais estranho é que até poucos meses atrás [esses grupos] eram rivais. Todos se uniram contra a votação do ‘sim’. Conceitualmente não tem como você votar pelo ‘não’, contra o mandato de três anos, então eles encontraram essa válvula para atormentar a vida do clube e de um patrocinador [Crefisa] que já colocou mais de meio bilhão de reais no clube. Como um patrocinador desses pode dar prejuízo ao clube? Tem duas vertentes, dos dirigentes ultrapassados, que ficam agarrados ao clube e não soltam de jeito nenhum. Eles querem que fique dois anos para que, ano sim, ano não, fique aquela balbúrdia, para sempre o candidato a presidente ficar negociando cargos com eles. E tem as pessoas que no início da reforma estatutária, em 2013 [na gestão Paulo Nobre], eram a favor dos três anos, sempre foram, mas agora como eu sou conselheira e eles vislumbraram a possibilidade de eu querer ser candidata a presidente, ficam fazendo conta, ‘se aprovar isso agora, daqui a três anos a Leila pode ser presidente’, então é uma forma de me barrarem. Mas sou uma conselheira comum, se não for candidata em 2021, posso ser em 2022, 2024, isso não impede um conselheiro de ser candidato…
Então você quer ser candidata a presidente?
Gente, não sou candidata a nada. Nunca vi ninguém fazer campanha eleitoral com três, quatro anos de antecedência. Eles têm o receio de que daqui a três anos eu possa ser candidata. E qual o problema? Sou uma mulher que não tem medo de ninguém, se eu achasse que é o melhor para o clube me candidatar em 2022, eu me candidato, contra quem quer que seja. Mas esse não é o motivo para apoiar os três anos, estou apoiando pela modernidade, porque toda essa gente que nunca deixou o clube crescer está apoiando o lado contrário, eles querem que continue como está, e nós não queremos isso.
Depois do bate-boca após a última reunião do conselho deliberativo, reclamaram de arrogância por você ter perguntado quem colocaria o dinheiro pago pela Crefisa se ela saísse. Concorda que isso pode ter trabalhado contra?
Sou muito clara, só falei a verdade. O Brasil inteiro sabe que nosso patrocínio é o maior da história para o futebol nas Américas. Eles são irresponsáveis. A partir do momento em que tentam indispor o patrocinador com o clube, para que o patrocinador saia, eles teriam que ter a responsabilidade de dizer, ‘patrocinador, você caia fora, mas vou pôr uma empresa que coloca um valor tão relevante como o que você coloca’. Mas ninguém dos que reclamam põe um centavo, não apresentam alternativas, então não acredito que falar a verdade seja ferir susceptibilidades. A grande maioria dos conselheiros apoia o patrocinador.
Qual as outras prioridades para a assembleia geral do dia 4?
A Lei de Incentivo Fiscal, da qual a o Palmeiras já poderia estar se beneficiando há tempos, mas nenhum desses ex-presidentes se interessaram. Foram colocados alguns requisitos no estatuto para que isso aconteça. Podemos arrumar empresas que aportem para os esportes amadores, basquete, vôlei, natação. A vantagem para o sócio é que a partir do momento em que o clube não precisa desembolsar para os esportes amadores, sobra receita para as áreas sociais do clube.
Com só uma reeleição de presidente, como é hoje, o estatuto não está adequado? Foi o que um conselheiro me disse.
É mentira. A Lei de Incentivo exige alguns requisitos que o estatuto não tinha, e que não têm a ver com o mandato.
Outro ponto questionado é o valor de R$ 20 milhões que a Crefisa poderia investir por meio de incentivos fiscais, classificado como “impossível” por membros do grupo que defende o ‘não’.
[Irritada] Ele sabe quanto eu pago de imposto? Não sabem, então como ele sabe que é impossível? Não vou ficar discutindo valores com você agora. Mas quando aprovar, vou te mostrar, ‘olha quanto nós aprovamos…’ Fora que não é só a Crefisa, vou tentar buscar parceiros que aportem também aqui no clube. Gostaria que dessem uma entrevista para você falando, ‘trouxemos essa, essa e essa empresa que irão apoiar o Palmeiras’. Mas ninguém faz nada pelo Palmeira, só falam…
Como ficou na reforma do estatuto a questão da diminuição do número de vitalícios?
Eu pessoalmente votei pela diminuição, acho importante para oxigenar o conselho, mas não passou. Numa próxima reforma, a gente vai colocar novamente em pauta a diminuição dos vitalícios.
Você falou em ‘oxigenar’ o conselho. Soube que você já está pensando nas eleições do conselho em fevereiro para minar o curral eleitoral do dirigente a quem você chama de ultrapassado. Você confirma?
Sim, não só dele, como os dos satélites que orbitam em torno dele e que também são totalmente ultrapassados. A gente precisa ter cabeças novas, pensando no Palmeiras para a frente, não pensando no Palmeiras na obscuridade, em reuniões que ninguém sabe o que eles conversam, o que é tratado. Nossas reuniões são assim [gesticula para o salão do Palmeiras ocupado por sócios e conselheiros convidados], abertas, como esta que tem 700 pessoas, o importante é abrir para as pessoas ouvirem. Aqui tem gente que quer um Palmeiras moderno.
Mas então você reconhece que o clube está dividido?
Sim. Mas a outra parte é um grupo muito pequeno, que faz um barulhinho.
Mas a vitória de vocês que votaram pelo ‘sim’, foi por uma margem muito pequena, por três votos.
Se você pensar bem, foi uma votação muito relevante, foram 143 votos que a gente precisava do total de conselheiros mais um. Se você imaginar que vieram 143 conselheiros votando ‘sim’ pela reforma, é muita gente. Com a modernidade vencendo o ultrapassado. Não estou desmerecendo as pessoas antigas, pelo contrário. Votam pelo ‘sim’ pessoas que estão no clube desde que nasceram. Luto contra essas pessoas que querem o Palmeiras pequeno, na balbúrdia, pois só assim eles conseguem aparecer.
Quanto você lucrou com negociações de jogadores do Palmeiras?
Nunca recebi um centavo. Um dos contratos era do Victor Hugo, que foi vendido, o presidente solicitou que fosse adquirido outro jogador, e nós não recebemos. Vamos receber no futuro. Então essa celeuma dos aditivos é uma falácia. O Palmeiras nunca teve, e nunca terá prejuízo com esse patrocínio, que é tão grande, que ele próprio ‘paga’ esses jogadores. Dizem que estou diminuindo o Palmeiras quando digo que o patrocínio é um valor acima ao de mercado. Não estou diminuindo o Palmeiras, pelo contrário, eu acho que vale. Sabe porquê? Porque sou palmeirense, eu acho que vale. Mas veja que outros times grandes recebem valores bem menores. Então com essa gordura, em um ano e meio, eu pagaria todos esses contratos. Então como esse contrato pode dar prejuízo ao clube? Quem dá prejuízo ao clube são pessoas que estão agarradas ao clube, que vivem do clube e que nunca fizeram nada pelo Palmeiras. É essa gente que age de má fé que queremos tirar daqui. Prejuízo haveria se não houvesse o patrocinador como o Palmeiras tem, de apaixonados pelo clube. É isso que eles querem, que o patrocinador saia.
O contrato do Palmeiras com a Crefisa vence em 2019, e a eleição do presidente do executivo, em novembro deste ano. Se o presidente Galiotte não for reeleito, vocês podem ir embora?
Não sei se o Mauricio vai ser candidato, mas é óbvio que se forem eleitas essas pessoas que estão atacando violentamente o patrocinador, é óbvio que não vou renovar o patrocínio, tendo a caneta na mão, para uma pessoa que é minha inimiga. Uma pessoa que ofende o patrocinador nos quatro cantos. Mas não acredito que isso vá acontecer, o Palmeiras não pode retroceder. Se a oposição vencer, eles que atacam tanto o patrocinador, eles tem que ter a responsabilidade de arrumar outro patrocinador. Eles atacam tanto o patrocinador, que querem ver o patrocinador pelas costas, não é? Se eles conseguirem eleger alguém que não gosta do patrocinador, não é o patrocinador que vai sair daqui, eles vão tirar o patrocinador daqui, e eu acho que eles é que vão ter a responsabilidade de colocar outro. Se esses críticos ganharem a eleição, eles não vão querer a Crefisa e a FAM como patrocinadoras, isso eu tenho certeza, e o que eles terão que fazer, já que se indispuseram com o patrocinador, não o quiseram aqui, eles terão de arrumar outro, será deles a responsabilidade.
Falando sobre futebol, você está satisfeita com o futebol do Palmeiras?
Eu gostaria que o Palmeiras estivesse entre os dois primeiros da tabela, é claro que não, todos nós torcedores gostaríamos que estivesse melhor. Mas está no início do campeonato, na 15ª rodada? Mas é claro que esperamos mais.
A falta de títulos incomoda?
Claro que sim. Estamos mal acostumados; título nacional em 2015; outro título nacional em 2016; e em 2017 fomos vices. Mas não podemos esquecer o que passamos em 2014, quando não caímos [Palmeiras] por um milagre. Antes, a emoção forte era quando não caía, isso é uma vergonha.
Como está acompanhando a negociação entre Palmeiras e Globo do contrato de transmissão na TV aberta do Brasileiro a partir de 2019? Como patrocinador, qual a importância da visibilidade de ter a marca estampada no canal?
Sou uma grande patrocinadora da Globo, [é importante] para qualquer marca, pela visibilidade, pela audiência, ter minhas marcas em jogos transmitidos pela Globo. Espero que dê tudo certo, mas quem negocia é o presidente Galiotte. Eu não me meto nisso.